Viva o Socialismo


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Uma entrevista recente do crítico literário Antonio Candido ao jornal “Brasil de Fato” andou dando o que falar nas redes sociais, onde há muita gente que ouviu o galo cantar e não apenas não sabe onde, mas desconhece o que seja um galo e o que seja um cocoricocó. Pensa que ouviu a buzina de um carro. Candido afirmou, com a simplicidade com que fala de literatura, que o socialismo é uma doutrina triunfante, porque deve-se a essa doutrina a maior parte das conquistas sociais coletivas do nosso tempo. Muita gente acha que “ser triunfante” é conquistar o Poder, a Presidência da República, o Trono, ou então ter mais dinheiro, mais bancos ou mais exército.

Diz Candido: “O que é o socialismo? É o irmão-gêmeo do capitalismo, nasceram juntos, na revolução industrial. É indescritível o que era a indústria no começo. Os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. Isso era a indústria. Aí começou a aparecer o socialismo. Chamo de socialismo todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado. Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, solidarismo, cristianismo social, cooperativismo… tudo isso. Esse pessoal começou a lutar, para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais que doze horas, depois para não trabalhar mais que dez, oito; para a mulher grávida não ter que trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para as crianças. Coisas que hoje são banais.”

Se alguém fosse esperar que os capitalistas criassem creches, dessem plano de saúde, garantissem salário-mínimo e carteira assinada, etc., ia morrer ao relento. O Capitalismo só fez essas concessões porque foi pressionado pela ameaça socialista; preferiu entregar os anéis para não perder os dedos. O Capitalismo, então, é a encarnação do demônio? Não: é a encarnação do Homem, de seu impulso de criar, de competir, de produzir, de crescer, de ser melhor, de ser maior, de lutar, de acumular e multiplicar. Só que esse é o nosso lado egoísta, individualista, reptiliano. Precisa ser contrabalançado pelo nosso lado gregário, solidário, compassivo, capaz de enxergar os interesses do grupo e não apenas os do indivíduo. Um equilibrando o outro.

Sem o Capitalismo, seríamos um mundo materialmente miserável. Sem o Socialismo seríamos modernos, sofisticados, autossuficientes, mas capazes de vender a mãe a um bordel e o filho recém-nascido ao tráfico de órgãos, se isso nos proporcionasse um decimal a mais de lucro, uma dose a mais da droga chamada Dinheiro.

 

 

 

 

 

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Braulio Tavares é escritor e compositor. Estudou cinema na Escola Superior de Cinema da Universidade Católica de Minas Gerais, é Pesquisador de literatura fantástica, compilou a primeira bibliografia do gênero na literatura brasileira, o Fantastic, Fantasy and Science Fiction Literature Catalog (Fundação Biblioteca Nacional, Rio, 1992). Publicou A máquina voadora, em 1994 e A espinha dorsal da memória, em 1996, entre outros. Escreve artigos diários no Jornal da Paraíba:http://jornaldaparaiba.globo.com/ Blog: http://mundofantasmo.blogspot.com/ E-mail:btavares13@terra.com.br




Comentários (3 comentários)

  1. joão antonio, Bráulio Conhecendo como conheço seu poder de síntese ético, sei que nos colocou ao par do principal do Candido falou e disse. As idéias deste mestre são mesmo colocadas até num site de poesia, mais que ensaísta Antônio Candido é um poeta em si. Meus parabéns meu caro.
    14 junho, 2013 as 3:04
  2. chico lopes, É isso aí. Adorei a entrevista. Abrir mão da utopia socialista jamais abri, e sinto que perderia minha humanidade por completo se o fizesse. Mas, francamente, viver no mundo que está aí ficou penoso demais. Haja resistência, estoicismo, esperança. Porque as pessoas andam queimando outras pelo simples pecado de não terem o dinheiro que pretendiam surrupiar naquele momento. Estão dizendo o seguinte: se você não faz dinheiro, merece ser queimado. O ápice da barbárie capitalista…Quanto aos patrões, não acredito que tenham mudado substancialmente tanto assim desde a revolução industrial – são pressionados a prestar certas contas, mas, deixados à vontade, escravizariam meio mundo babando de prazer…
    14 junho, 2013 as 14:12
  3. chico lopes, Quanto ao Candido, sou feliz por viver num país que conta ainda com um homem como ele.
    14 junho, 2013 as 14:15

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