Use o assento para flutuar


 

Poeta mineiro lança livro na Funarte, São Paulo no dia 21 de agosto às 19h30. O livro sai pela Editora Patuá e reúne os trabalhos mais recentes do autor. Na noite de lançamento, Leo Gonçalves estreia também sua performance Poemacumba, que apresenta em parceria com a dançarina Franciane de Paula.

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Prólogo (o le que sea)
Por Juan Gelman

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¿Cómo hablar de este libro que “construye edificios para que nadie suba”? ¿Y cómo no subir a este edificio? El amor, la poesía, la imaginación, el humor, son sus dueños y usted, lector, también. El humanismo de estos poemas habla con el mundo sin concesiones y erra por sus entrañas para saber qué son, por qué nos dan dolor y hermosura al mismo tiempo, por qué despiertan la palabra de Leo Gonçalves.

Es una palabra que canta “aunque no haya belleza suficiente” y que el autor alimenta con el vientre de la amada, su pubis que atrae la respiración del “Cantar de los cantares” del fondo de los siglos a pesar de la electrónica.  ¿Somos humanidad o no? Estos poemas dicen con razón que, para bien o mal, somos una continuidad y desde ese lugar conversan con la Historia.

Lo hacen con gracia, con sorpresas lingüísticas que  rozan lo invisible, porque la realidad poética no es sólo lo que hay, es lo que hubo, lo que habrá, y la poesía todo lo reúne en materias del tiempo. En “Flutuar”, el presente está lleno de pasado para saber quiénes somos.

La imagen nace de la distancia con las cosas, pero “el amor es todo aquello que se toca”, afirma Leo. Aún así, sabe que el amor y la poesía son intocables, sólo se pueden oír sus cadencias llenas de sobresaltos. La repetición en estos poemas son golpes a la puerta de la palabra para que diga lo que sabe. También golpea al lector para que sepa lo que ignora de sí mismo.

Hay cosas extraordinarias que Leo Gonçalves da: el ritmo de sus versos, repiques del candombe, un poema del mar como si lo hubiera escrito Yemanyá. Algunos poemas se podrían bailar sin música, sólo con la de la palabra, un reconocimiento de todas las vidas y las muertes que la hicieron y están en su escritura. Un mérito mayor.

Digresión: la segunda parte del libro se podría calificar de “poesía política” con el desdén que la expresión entraña. Se nombra a W, Bush, Truman, Nixon y otros autores de la desdicha mundial con un despliegue de riqueza poética que destrona adjetivos. La poesía es palabra calcinada y por eso puede hablar de todo. La cuestión es cómo. Estos poemas de Leo Goncalves son poesía, como los poemas que Alceo de Mitilene escribió hace 27 siglos: No entregar nunca a nuestros compañeros/o bien morir y envueltos en la tierra/descansar, derribados por aquéllos/que mandaban entonces o matarlos/y liberar al pueblo de sus males.

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, mas: o que passa
Por Ricardo Aleixo
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Uma lírica de fios tensos, uns; desencapados, outros; partidos e irremediavelmente soltos, alguns mais – a que nos oferece Leo Gonçalves neste livro em que a ironia se constitui, já desde o título, como um elemento estruturante e, a comprovar a pertinência de seu uso, desestruturador. Que não se espere encontrar um poeta reverente a qualquer linhagem das inúmeras que se entrechocam no populoso e confuso ambiente da poesia contemporânea.

O poeta, neste livro de muitas vozes – interrompidas –, propõe-se como aquele um que percebe, mal iniciada sua fala, a intromissão, nela, de (cito as palavras iniciais de Michel Foucault em A ordem do discurso) “uma voz sem nome”, a qual, trazendo-o de volta para “além de todo começo possível”, não lhe deixa outra opção que a de figurar como “uma estreita lacuna, o ponto de seu desaparecimento possível”.

Hábil artífice da própria desaparição como “autor”, Leo Gonçalves como que faz da página um espaço análogo ao corpo – que ele, também um performador de muitos recursos, toma como espaço –, permeável à movência das “coisas do mundo, minha nega (Paulinho da Viola)” e à circularidade do tempo, como bem deve fazer quem diz ter partes com Exu, o trickster da tradição iorubá: “eu canto o corpo orgânico com ou sem órgãos/ eu canto as palavras velhas/ não digo nada de novo/ minhas palavras são mais velhas que o fogo/ a língua que se falava antes de babel/ o que já foi dito um milhão de vezes por todos”.

Uma “estreita lacuna” por onde passa, não tudo, mas: o que passa. Alguém parece ter entendido o novo papel do poeta, neste tempo em que “nossa poesia”, John Cage dixit, “é a / consciência/ de que/ não possuímos/ nada/.”

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TRÊS POEMAS DO LIVRO

 

pena que o arrudas não é mais potável

depois daquele porre que tomamos

madrugada preta na cidade mais careta do brasil

no ano de 1933

rebolamos nossa nudez

pela manhã esturricada

e mandamos a cidade para a puta que pariu

 

pena que o arrudas não é mais potável

a caretice venceu com medo

não queriam ver uma vez mais as nossas bundas

se entreolhavam de maneira tão amável

balançando como num samba

a malícia das velhinhas já corcundas

que buscavam baldes na cheia do rio

 

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AEROPLANOS
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planos para o próximo ano

aeroplanos

se a cabine despressurizar

carabinas como estas apontarão para a

sua cara

não há saídas de emergência

fasten seat belt

use o assento para flutuar

para o próximo ano

aeroplanos

 

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TRANSATLÂNTICO

adiar o dia de sair do mar
se enturmar com o mar
sem querer domar o mar
ser do mar
fazer com que o mar
em ser espelho olhe-se
no acordo do céu
sem horizontes nem limites
aceitar que o mar
em sendo mar se torne léu
sereia e todo ser
que se molha que se olha
em cada pele cada prole
tornar-se ele pele com pele
formar brânquias
formar guelras
e barbatanas
para estar no mar
querer morar no mar
esquecer os dias de adiar
e se espraiar por lá
pacificamente
atravessar o mar
num barco a vela
num transatlântico
ou num vapor
seguir por onde for
seguir por onde o vento indicar
ouvir as conchas ler os búzios
e deixar-se levar
deixar-se levar no mar
morrer no mar dormir no mar
beber o mar viver o mar
infinitivo mar

 




Comentários (1 comentário)

  1. Abelardo Rodrigues, Gostei.Gostei do estilo,da forma, e do conteúdo.Gostei do eu, e do “nós” embutidos nos poemas.Negros,por si mesmos. Salve.
    13 agosto, 2012 as 13:15

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