Tranqueiras Líricas


 

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Marcelo Montenegro lança dia 11/06 seu novo livro de poemas Garagem Lírica e também uma reedição de Orfanato Portátil (esgotado, lançado originalmente em 2003 pela Atrito Art, PR). Ambos sairão pela Annablume, inaugurando um novo selo da editora, o Annablume Literária.

O lançamento será em duas etapas: Primeiro tempo das 19h às 21h30, com coquetel e leitura de poemas (na qual Montenegro será acompanhado por Fabio Brum e Marcelo Watanabe nas guitarras), na própria sede da editora (Rua MMDC, 217 – ao lado do metrô Butantã). Segundo tempo, a partir das 22h, na Mercearia São Pedro (Rua Rodésia, 34, Vila Madalena).

Marcelo Montenegro é considerado um dos principais nomes da nova poesia brasileira. Acompanhado por um time de músicos, o poeta se apresenta, desde 2004, com o espetáculo TRANQUEIRAS LÍRICAS, no qual seus poemas falados se fundem ao rock’n’roll, ao blues e ao jazz. Segundo catálogo encartado nas revistas Trip e TPM (dez/ 2007) com perfis dos “… 12 literatos mais consistentes cujo trabalho ganhou projeção nos últimos 10 anos” (…) ”não é raro pegar pessoas se debulhando de risos ou de lágrimas nas apresentações de Marcelo, um legítimo show de blues.” (Blog do espetáculo, com fotos e videos: http://tranqueirasliricas.wordpress.com/).

Dentre outros projetos, participou de Outros Bárbaros: Poesia na Idade Mídia e da primeira edição do A(u)tores em Cena (2005 e 2006, ambos no Itaú Cultural). Ao lado de Ademir Assunção, foi curador do Na Ponta da Língua, no SESC Vila Mariana (2006), que reuniu poetas e compositores – os primeiros falando sobre a importância da música e os segundos sobre a influência da literatura em seus trabalhos. Com Chacal, Marcelino Freire, Paulo Scott e Flu integra o espetáculo lítero-musical Vocabulário, realizado periodicamente no espaço b_arco mas que já participou de diversos outros projetos como Circuito SESC de Artes, Bienal do Livro de SP e Vira Cultura.

Trabalha como roteirista e como técnico de luz e som em teatro. No teatro, trabalha há mais de 10 anos com Mário Bortolotto na Cia Cemitério de Automóveis além de já ter trabalhado com diversos outros diretores (Fauzi Arap, Marcelo Rubens Paiva, Elias Andreato, Hugo Possolo, etc.) Como roteirista, já escreveu para HBO, Cultura, Band, Globo e MTV, dentre outros. Tem parcerias gravadas pelas bandas Fábrica de Animais e Saco de Ratos.

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DISSERAM

Sei que gosto de um livro quando os poemas me deixam com vontade de escrever. Também sei que gosto de um livro quando preciso interromper a leitura, pegar o meu casaco e dar uma volta por ai. “Orfanato Portátil” sempre tem esse efeito sobre mim (…) Há eletricidade circulando pelos poemas. Há ritmo, coisa rara de se encontrar. Também tem uma coisa meio improviso de bebop. Lembro de um poema de um espanhol que cita um músico de jazz – basicamente o cara dizia “toque a sua canção e dê o fora”. O Marcelo sabe fazer isso.

Angélica Freitas (no prefácio à nova edição de Orfanato Portátil)

 

O resultado é um conjunto de imagens desconcertantes, como se Marcelo Montenegro avançasse de câmera em punho, arrolando o que o mundo tem de belo, triste, espantoso – espantoso, sobretudo, que o espanto é matéria-prima, uma espécie de pré-sal da poesia.

Marçal Aquino (na orelha de Garagem Lírica)

 

Um livro de poemas que abre com uma epígrafe de Tom Waits não pode ser comum. E é dessa forma que deve ser lido Orfanato Portátil… Porque impressiona no poeta paulista a junção entre vigor verbal e ternura. Ora é escrachado, contundente, desafiador. Em outros momentos é singelo e lírico. Num contraponto que encanta e estranha e desafina os sambas poéticos de uma nota só.

Linaldo Guedes (A União, PB, 2004)

 

Montenegro é o avesso da poesia-bündchen que impera na poesia brasileira. A poesia dele tem glúteos, e é calipígia sem ser bundona.

Joca Reiners Terron (Paralelos, RJ, 2004)

 

Tendo pouco mais de 30 anos e inserido de modo inevitável em sua geração, Montenegro não tem medo de incorrer em referências ao universo pop. Assim, “groupies de cabelo rosa” e “monga, a mulher-gorila” não cederão espaço em meio aos seus versos.

Julián Fuks (EntreLivros, SP, 2006)


… parece que ele encontra o “ponto” certo da alquimia, da junção dos ingredientes – forma, música, significado e silêncio – que existem em cada palavra e na precisa união delas. Daí a impressão de uma poesia de emoção muito afinada pela inteligência.

Marici Silveira (Etcetera, SP, 2005)

 

O Marcelo é um cineasta verbal.

Chacal (Chacalog, RJ, 2009)


Orfanato Portátil pode ser lido como se fosse o encarte de um disco gravado por James Dean, um dia antes dele se espatifar a 300 por hora no meio do nada. Poemas que ficam ecoando como canções tristes e impossíveis em nossa mente.

Marcelo Ariel (Critério, SP, 2004)

 

Outra grande virtude é que o poeta fala do mundo, e não de poesia, nem de flunfo [aquela sujeirinha que fica ali no umbigo, saca?]. Ele tem humildade – ou orgulho – suficiente pra vazar da punheta metalinguística e sim, cair de volta no mundo pé-no-chão, certo de que as coisas simples são as mais difíceis de pegar.

Ronaldo Bressane (Germina, MG, 2004)

 

Vou dizer uma coisa: faltava humanidade nos livros que eu andava lendo antes de achar o Montenegro. Havia muito poeta para pouca poesia. Uma situação estaria necessariamente ligada à outra? Não, acho que não. Marcelo é o amigo de colégio (que não tive) que escreve uns versos lindos. O filho-da-puta me fez chorar com o livro que publicou. Mas eu jamais ia falar um negócio desses pra ele.

Marcelo Mirisola (Animais em Extinção, Ed. Record, RJ, 2008)

 

 

 

Poemas de Marcelo Montenegro:

 


Postal

 

Daqui a 30 anos, digamos,

que alguém leia este poema.

Todos os pequenos laços

que o ligam ao mundo

fora dele e à vida de um

poeta fudido entre milhões

de pessoas lugares motivos não estarão

mais aqui para socorrê-lo.

Daqui a 30 anos a coisa

será somente a coisa mesmo.

Uma cápsula amputada do tempo,

um bife arrancado do amor.

 

(in Garagem Lírica)

 

 

 

Mapas

 

Mapas malucos em muros úmidos.

Bolhas num adesivo.

Dedo cortado por uma página.

O espanto é um bairro

no olhar do meu filho.

 

“Não se salva um navio

não o construindo.”

Cicatrizes mudas

no braile do carinho.

 

As janelas dos carros

fatiando meu reflexo.

Um esguicho de música

no cofre do ouvido.

 

(in Garagem Lírica)

 

 

 

Robert Creeley Band

 

Monga, a mulher-gorila:

na dúvida, rindo da vida;

aqui, grudada no corpo,

como uma calça jeans

encharcada de chuva –

a preparação do salto

na cabeça do cervo morto.

 

A musa fatiada na véspera

do mágico. E o jeito encantador

com que a executiva

mexe o canudo

no copo de suco.

 

Na quermesse dos sentidos,

onde a noite troca de pele

com o dia – O céu esfolado,

anjos em velocípedes –

A esfiha que sobra

na lanchonete que fecha –

Onde o espanto

lustra seus rifles.

(in Garagem Lírica)

 

 

 

Sinopse

 

Canetas que falham ao lado do telefone.

O baque das havaianas na escadaria.

O labor sigiloso de um poema.

Um gemido de geladeira

nalgum ponto perdido do dia.

 

Um copo que nosso brusco

e cômico malabarismo

evitou que se quebrasse.

 

(in Orfanato Portátil)

 

 

 

Matinê

 

Às vezes saio do cinema

E me ponho a andar

Cartografias pessoas

Apenas olhar

Ter a leve impressão

De que a cidade está grávida

De um outro lugar

(in Orfanato Portátil)

 

 

 

Exile on Main Street

 

O balde azul claro. O velho quintal.

O cabeçote sujo da memória.

Um filme que se soletra, a tacape, desde o fim.

Forte apache. Benflogin. A lisura do serviço.

Que ser moderno, meu bem, dá nisso.

Poemas sóbrios, beges, concisos.

E evitar no poema palavras como: Bugiganga.

220 volts. Rick Wakeman é o Olavo Bilac do rock.

Nem todo perna de pau tem seu dia de craque.

Estelionato. Western Spaguetti. Birra de criança.

Charme incerto de forasteiro, baby.

Que o cachê cobre a fiança.

 

(in Orfanato Portátil)

 

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………………………….[capas de André Kitagawa]

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ANNABLUME LITERÁRIA

A literatura, vale lembrar, não depende apenas das obras – sem elas, evidentemente, não se faz arte literária –; a literatura está intimamente ligada à crítica que trata de valorizá-la e justificá-la, mas também à sua publicação. Consequentemente, boa parte da formação da literatura cabe à crítica, que, além de ratificar as obras e autores escolhidos, deve estar sempre atenta a renovações constantes, seja pela descoberta de novos autores, seja pela revalorização de muitos que ainda não receberam a devida atenção. A publicação é o que compete à editora, desde a seleção de autores e textos, sua passagem para um outro suporte, no caso o livro, a divulgação e a possibilidade de disponibilizar ao leitor o texto julgado relevante. O selo Annablume Literária vem justamente ao encontro desse fazer; seu objetivo principal é ser mais uma voz na composição dos discursos literários.

Conselho Editorial:

Antonio Vicente Seraphim Pietroforte, Gustavo Bernardo Krause e Moacir Amâncio

 

Mais informações na Annablume com Flávia, José Roberto ou Ivan pelo telefone 11 3034.2558 ou pelos emails flavia@annablume.com.br; ivan@annablume.com.br ou joseroberto@annablume.com.br




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