Romance metamórfico



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Febre, livro de estreia do escritor Renato Essenfelder, é um romance metamórfico em que a linguagem se desestrutura pouco a pouco na velocidade da alucinação, como uma filmadora registrando a cada segundo as mudanças psicológicas intensas do personagem principal. O conflito central do romance é uma ruptura emocional que lança o narrador-personagem num redemoinho de pensamento-memória-realidade-ficção, onde não se sabe mais a diferença entre realidade e fantasia, pois o tempo, o espaço e o outro – oposto ao eu – são convertidos à subjetividade do personagem.  Febre é um romance que mistura o fluxo narrativo herdado da obra de Raduan Nassar e a introspectividade de Clarice Lispector e Caio Fernando Abreu. É literalmente um romance PORRADA na cara do leitor, porque cada frase, cada parágrafo é um questionamento da relação do homem com seu meio e consigo, é uma LITERATURA DESAUTOMATIZANTE, pois o leitor se parte entre as várias (re)descobertas do narrador. Busquei durante a leitura da obra uma classificação adequada, mas não encontrei, Febre foge a todas as classificações, apesar da comparação com o estilo de Nassar, a escrita de Essenfelder é bastante diferente, o fluxo narrativo é dinâmico, mas as frases, lírico-filosóficas, lançam o leitor num abismo. Eu fiquei à margem do precipício enquanto lia Febre: “O natural das coisas é morrer, simplesmente.” Tudo morre, eis a verdade da obra, uma verdade simples, mas que se torna a cicatriz que conduz ao clímax. A morte está no inicio do livro, no meio e no fim: a morte do amor, a morte de um menino, a morte da palavra, mas a morte é a transformação, a figura tomando corpo e o corpo aniquilado na figura, é também o limite, a febre, o último grau que o corpo pode suportar, é o limite entre o real e a palavra, é o caminho da palavra durando após a última página. Acrescento uma coisa: Essenfelder não escreve como Nassar – a comparação é minha – escreve como ele, escrita singular, por isto inclassificável, por isto forte, por isto vale essa PORRADA.

 

 

 

 

 

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Anderson Fonseca é autor do livro de contos Notas de Pensamentos Incomuns (2011). E-mail: luizdovalefon@hotmail.com




Comentários (1 comentário)

  1. Morena, Fantástico encontrar um autor que resuma sua capacidade de classificação, Anderson! Estou louca para ler.
    20 maio, 2013 as 20:23

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