Políticas de Identidades no Brasil


Políticas de Identidades no Brasil: José de Alencar

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Em Cartas a Favor da Escravidão, José de Alencar, expoente do Romantismo, um indianista por ocupar-se dessa temática, defendeu que a libertação dos escravos deveria ser gradual, porque precisavam ser civilizados. Em contrapartida, alardeava o colapso que isso traria para a economia como forma de intimidação ao Imperador, porque o escritor gozava de forte influência política por partilhar das ideias conservadoras de que a elite, da qual também fazia parte, estava incutida. Isto nada significaria se o autor não estivesse absorto nas discussões em voga (escravistas x antiescravistas) e se em sua literatura não nos apresentasse um projeto baseado nas ideias correntes do século XIX, como a eugenia e massageado pelo mito do bom selvagem.

Se a opinião de José de Alencar sobre a inferioridade dos negros não constitui novidade para o período; assombra-nos, em um primeiro momento, que um escritor posicione-se dessa maneira, porque o julgamos acima de diatribes, optando pela essência humana, sem crer em sua contaminação por linhas ideológicas sombrias ou duvidosas, comungando da crença ingênua de que o escritor, por sua sensibilidade, esteja imune aos apelos da temporalidade. A atitude de Alencar é mais comum do que se pensa: deparamo-nos com o exemplo de Knut Hamsun, autor de Fome, que após ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, leva a medalha da premiação como presente para o Führer.

José de Alencar descartava o negro como fator de formação do povo brasileiro. Ao contrário de autores como Gilberto Freyre (Casa Grande & Senzala) e João Ribeiro (História do Brasil) que o celebram. A opção alencariana – para a construção de uma raça pura – talvez repousasse sobre os índios. Talvez representasse a busca pela determinante que plasmaria a identidade nacional e isso, por si só, já naquele momento, pontuava uma arbitrariedade e uma indicação do caminho do pensamento político do autor a respeito da realidade nacional.

O Conde de Gobineau já havia expressado restrições acerca da mistura de raças no Brasil e, posteriormente, outros autores, como Monteiro Lobato, endossaram as palavras desse último. Este afirmava sobre as nossas formas grosseiras, como se tivéssemos coladas ao rosto máscaras horrendas. De tempos em tempos, ideias como esta que deveriam estar banidas do convívio do homem, ressurgem.

As bases da plataforma de José de Alencar estão lançadas: brancos e índios no Novo Mundo, na América campeada por Marte. O primeiro como elemento desbravador, destemido, plasmado para conquistar e o segundo elemento, de índole pacífica, passivo à ação dos primeiros, receptáculo perfeito para noção de civilidade europeia, descendente da raça adâmica, encarnando o homem original do qual os europeus se criam também oriundos. Embora José de Alencar não faça alusão direta à submissão dos eleitos por nossos colonizadores, encena-se em Iracema (contato do indígena com o branco) essa sujeição através da teatralidade amorosa. Deveria ser um sofrimento atroz para o autor que, em Ubirajara (momento anterior à chegada do branco), informa-nos o modo como viviam esses traídos que já foram os donos dessa terra. A saga dos vilipendiados indígenas não se extingue: se os brancos simbolizam aquilo que em essência são esses selvagens de forma acabada, em O Guarani (o indígena entre os brancos), esse componente deve ser tragado em um movimento autofágico como se o branco e o indígena se assemelhassem tão completamente que não se distinguissem e sua complementaridade não significasse risco para a individualidade de ambos.

Se o indígena e o branco estão situados ao centro para José de Alencar, relegados à periferia permanecem os negros. Esta pequena comunicação sobre a política de identidade no Período do Romantismo no Brasil: A Problematização da Cultura Indígena e Branca em José de Alencar fora apresentada quando cursava a faculdade.

Outras comunicações foram realizadas sobre obras basilares, como: Os Sertões, de Euclides da Cunha, e, Macunaíma, de Mario de Andrade. Conforme a nuance dos matizes políticos, deslocou-se o eixo em que se repousava o que se entendia por uma identidade pátria e sobre qual objeto de sua eleição se estenderia: se sobre o indígena, o sertanejo ou o mestiço.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Mariel Reis (Rio de janeiro/RJ, 1976). Cursou Letras na Uerj. Publicou Linha de recuo e outras estórias, Ed. Paradoxo; John Fante Trabalha no Esquimó, Ed. Calibán, Cosmorama, Ed. Paradoxo e Vida Cachorra, Ed. Usina de Letras. Participou das antologias: Paralelos: 17 contos da nova literatura brasileira, Ed. Agir; Prosas cariocas: uma nova cartografia do Rio, Ed. Casa da Palavra; 4 Contos, Ed. da Palavra; Como Se Não Houvesse Amanhã, Ed. Record. Participa de vários periódicos: Rascunho, Panorama da Palavra, Ficções nº 11, Cult, Outros Baratos (Revista do Sebo Baratos da Ribeiro). Em terras portuguesas, no sítio Pitanga. Escreve o blogue Cativeiro Amoroso e Doméstico. Experimenta novas maneiras de divulgar a literatura, participando do Projeto Na Tábua, organizado por Paulo Scott, através de contos-cartazes. Integra o Grupo Cultural Na Pavuna e escreve o blogue Arqueologia Urbana, hospedado pelo site do grupo Afroreggae. E-mail: marielreis@ig.com.br




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