Poemas Galegos


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Tenho praticado ou sonhado toda sorte de viagem à idade média. Tento castelos em Castela, vou às ondas de Vigo, provo de Provença o que me sabe a fin’amors. E destes avanços no insondável da memória, ou retornos do atemporal, teço poemas e recomeço a história. Fio esta trama de dias de amor na noite dos tempos. E “sou onde não estou” sendo por mim reinventado: ecos do futuro no passado.

A língua que não é esta nem aquela, português nem castelhano, persiste e se faz avessa, fala mais alto, pedra no estranho caminho, incontornável.

Esta língua estranha que se aninha por dentro da minha, vos oferto agora como um susto. Como encontrar alguém perdido há muito tempo. Para perder a certeza de que esta fala é para sempre da gramática. “Dia a dia renovar”.

 


1

sse non scripve assi
ni nembra ren
poilo veer podria
levar omage u prix
algur avan quantar?

(se assim não se escreve
nem lembra coisa alguma
poderia-se pois ver
a imagem passada adiante
junto ao cantar?)


2

Xa sempre no tempo en frol
mentre no mundo se van
sen mesura teño estes ollos
ca por ben vexo u amor
luz de vós mha senhor!

(Já sempre no tempo em flor
enquanto no mundo se vão
sem mesura tenho estes olhos
que eu bem vejo onde o amor
luz de vós minha senhora!)


3

Lonxe ceo pol-o azur.

Sempre un deseo
sensibre que brila.

Mentras que dormes,
dirixa teu sol.

(Longe céu pelo azul.
Sempre um desejo
sensível que brilha.
Enquanto dormes,
que dirija teu sol.)


4

Hoxe con gusto vos mando
o sol parare d’andar
ca non vexo meu ben.

Que xa se van os tempos
mudados de fonte con pesar
a secar antigos deseios.

(Hoje com gosto vos mando
que o sol pare de andar
que eu não vejo meu bem.
Que já se vão os tempos
mudados de fonte com pesar
a secar antigos desejos.)


5

Para soster o sol
que encende na páxina
e orentar as horas
decoñecidas
sempre pensaréi en ti!

(Para suster o sol
que acende na página
e orientar as horas
desconhecidas
sempre pensarei em ti!)


6

Fumes minerales
xurdem dos froitos

Caricia de chama da pel
que traxe antre espellos
a somo de alas

Case dedos pola amargue mencer

Enche os ollos de anxos
a rubir dos sonos

(Fumos minerais
surgem dos frutos.
Carícia de chama da pele
que traz entre espelhos
a sombra de asas.
Quase dedos pelo amargo amanhecer.
Enche os olhos de anjos
a subir dos sonhos.)


7

Nos cons cegos
do tempo aluman asos
frescos enrolados voos
rompen na folla de gas

Una choiva de paxaros
espanta o solpor
de ouro esbara nas nubens
e vanse nas espiraes

Mentre en outa voz fai
o vento seus lances
de escrebir no silenzo
áxiles sombras

(Nos cantos cegos
do tempo iluminam asas
frescos enrolados vôos
rompem na folha de gás.
Uma chuva de pássaros
espanta o pôr do sol
de ouro esbarra nas nuvens
e vão-se nas espirais.
Enquanto em alta voz deixa
o vento seus lances
de escrever no silêncio
ágeis sombras.)


8

Tempo de xogar saetas
ecos polo silenzo

Raios pasan ao través
se lanzan n’as brétenas

Lume a tanxer n’aquel
paisaxe súpeto espello

I a bris a frolecer
todol-os sentidos

Verterá aire con sangue
en fervor de surpresa

Sin azos vóo alá
d’espazos insondabres

Saltan lampexos de legría
i-a luz encende imaxes

Mentres n’o ceo centilea
un’axil coroa dun numem

(Tempo de jogar setas
ecos pelo silêncio.
Raios passam através
se lançam nas brumas.
Lume a tanger naquela
paisagem subito espelho.
E a brisa a florecer
todos os sentidos.
Verterá ar com sangue
em fervor de surpresa.
Sem asas vôo além
de espaços insondáveis.
Saltam lampejos de alegria
e a luz acende imagens.
Enquanto no céu cintila
uma ágil coroa de um nume.)


9

 
(Só o pôr do sol pelos olhos.)


10

De non ter dos teus ollos
coma o sol, el non lume.

Algún día a ausencia
ten o fin por mencer
a modo encender
– só en ti ferida –
esta leria en legría.



(De não ver o sol dos
teus olhos, ele não brilha.
Algum dia a ausência
termina por amanhecer
lentamente
– só ferida por ti –
em alegria esta história.)


11

Viaxe polo círculo
en ese relox invisíbile
veloces ríos do sono
que tea a memoria.

Soio onde se sinte
co meu corazón labirinto
o que non sei é por cantar
aquel que esquenzo.

(Viagem pelo círculo
nesse relógio invisível
rios velozes do sonho
que tece a memória.
Sou onde se sente
com meu coração labirinto
o que não sei é por cantar
aquele que eu esqueço.)


12

No ceo do teu ollar
un mapa celeste
traspasar alén dise
hourizonte de vidro
¿espello ou extrana xanela
cando estou a ve-la?

Posesíon de pantasmas
si me encandíla
replexos de maravilla.

(No céu do teu olhar
um mapa celeste
transpassar além deste
horizonte de vidro
Espelho ou estranha janela
quando estou a vê-la?
Possessão de fantasmas
se me encantam
reflexos de maravilha.)

 

 

 

 

 

 

 

 

NOTA: Estes poemas foram escritos à moda da linguagem poética de vários séculos, combinando desde os mais remotos textos dos cancioneiros galego-portugueses até os contemporâneos do século XX. Para facilitar a leitura dos mesmos, acrescentei posteriormente uma tradução intralingual para o português do Brasil.

 

 

 

 

 

 

 

 

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Elson Fróes nasceu em São Paulo. Formou-se em Letras pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP). Colaborou com poemas e traduções em vários jornais e revistas literárias, como 34 Letras, uplemento Literário de Minas Gerais, Poiésis, Bric-A-Brac, Dimensão, Medusa, Monturo, A Cigarra, Tsé=Tsé, Babel, entre outros. Além de textos criativos, em poesia e prosa, também se dedica à poesia visual, elaborada com toda sorte de recursos, do artesanal ao eletrônico. Vencedor do I Concurso Universitário Livre Brasil-Portugal, do qual se publicou a antologia Folhas Avulsas, ed. Educ (SP), 1992. Como tradutor, verteu para o português versos de Blake, Shakespeare, Cummings, Sylvia Plath, Ungaretti, Girondo, MacLeish, entre outros. Lançou os e-books Poemas Galegos e Poemas Traduzidos em 2000. Seu trabalho está voltado para a pesquisa em semiótica visual e webdesign, com intensa atuação em divulgação cultural no portal Pop Box [http://www.elsonfroes.com.br/]e outros sites que mantem há cerca de quinze anos na internet. Participou de exposições de poesia visual no Brasil e no exterior. Em 2002 participou da antologia Na Virada do Século, Poesia de Invenção no Brasil, ed. Landy (SP) organizada por Claudio Daniel e Frederico Barbosa. Em 2004 participou do livro A Linha Que Nunca Termina, Pensando Paulo Leminski, ed. Lamparina (RJ). Lançou em 2008 a coletânea Poemas Diversos pela ed. Lumme (SP). Foi curador da mostra antologica Videopoéticas de poemas em vídeo no Projeto Paradas em Movimento do Centro Cultural São Paulo em 2011. E-mail: elsonfroes@yahoo.com.br




Comentários (1 comentário)

  1. Naiara, Amei seu site e amei os poemas =D Parabéns está realmente incrível 😉
    11 fevereiro, 2014 as 19:32

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