Poemas Abertos


SIMULAÇÃO DE POEMAS ABERTOS

……………………………..[Fractal by E.M. de Melo e Castro]

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1

abrir o poema não é como abrir a porta
abir a porta não é fechar os olhos
fechar a porta não é como fugir
fugir não é como abrir caminhos
os caminhos não são como os encontros
os encontros são como abrir janelas
as janelas não são portas do poema
a luz só chega se chegar a luz
a luz é água para abrir a vida

 

2

os dias voam como não voam aves
as aves voam como aviões não voam
os aviões voam como não voam nuvens
as nuvens passam como não passa o vento
o vento passa como não passam carros
os carros passam como não passam drones
os drones matam como olhos não matam
os olhos matam como não veem olhos
os olhos fecham-se como se fecha a vida

 

(20/08/2016)

 

 

 

 

 

 

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Ernesto Manuel Geraldes de Melo e Castro (Covilhã, Portugal 1932). Poeta e ensaísta. Diplomado em engenharia têxtil pelo Instituto Tecnológico de Bradford, Inglaterra, em 1956. Doutor em letras pela USP, em 1998. No Brasil, ministrou cursos de graduação e pós-graduação de literatura portuguesa, brasileira e africana, na USP, UFMG e UFRN. Na PUC/SP e na UNI/BH, ministrou cursos de pós-graduação de infopoesia e cibercultura. Praticante e teórico da poesia experimental portuguesa dos anos 60, introdutor em Portugal da poesia concreta (IDEOGRAMAS, 1961), é considerado pioneiro da videopoesia. Entre 1985 e 1989, desenvolveu na Universidade Aberta de Lisboa um projeto de criação de videopoesia denominado SIGNAGENS. Nesse projeto, Melo e Castro teve a idéia pioneira de lançar mão do gerador de caracteres para produzir poemas animados, pensados especificamente para veiculação na televisão. Na verdade, já em 1968, Melo e Castro havia realizado um pequeno videopoema de pouco menos de 3 minutos de duração, denominado Roda Lume, que chegou mesmo a ser colocado no ar, no ano seguinte, pela Rádio e Televisão Portuguesa, RTP, num programa de informação literária. Depois, mais exatamente em 1985, quando a Universidade Livre de Lisboa adquiriu um dispositivo completo de geração de caracteres e edição em vídeo, Melo e Castro foi convidado a desenvolver ali um projeto de videopoesia, que acabou por se constituir numa das referências mais importantes da atual poesia que utiliza recursos tecnológicos. Em 1993, realizou o videopoema em cinco partes Sonhos de Geometria, de 30 minutos, publicado em cassete VHS como anexo ao número especial 7/8 de MENU, cadernos de poesias, Cuenca, Espanha.




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