Os poetas de Feira de Santana


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Já estive uma vez em Feira de Santana fazendo conferências, mas não podia supor que ali havia uma insólita revista literária – Hera – e um consistente grupo de poetas. Agora o reitor da Universidade Estadual de Feira de Santana Jose Carlos Barreto de Santana acaba de editar um grosso volume, mais de 700 páginas, fazendo- nos conhecer esses poetas agrupados entre 1972 e 2005.

Isto é o que se chama “diferença”. Tudo começou quando Antonio Brasileiro foi em 1967 lecionar Moral e Cívica no Colégio Estadual de Feira de Santana. Transformou a chatura daquela disciplina imposta pela ditadura em algo atrativo. Fez um concurso de redação, selecionou os aspirantes a escritor e trabalhou com eles os textos que deram origem à revista “Hera”. Resultado: apareceu ali uma geração  de poetas. Alguns surpreendentes. O leitor Nivaldo Moura, sempre atento, descobriu que havia até uma tese de Jecilma Alves Lima sobre esses poetas baianos. Tese que li e apreciei.

Essa publicação dos poetas de “Hera” me lembrou dos antigos cancioneiros medievais que reuniam o melhor de uma época. Também nesta edição histórica de “Hera” são dezenas de poetas, uma safra significativa. Recebi o volume através de Roberval Pereira, poeta e teórico que sabe das coisas. Botei no facebook uma notícia dessa publicação e gostaria que os jornais do Rio e São Paulo acordassem, porque essa antologia de “Hera” é imprescindível à história da moderna poesia brasileira. No livro “Música Popular e moderna poesia brasileira” estudei os grupos dominantes na poesia brasileira, mas a poesia brasileira não se limita àqueles grupos vanguardistas que se digladiavam naquela época. O crítico piauiense Assis Brasil mostrou isso numa série de antologias.

Gostei de saber que a geração mais velha de poetas baianos, como Ruy Espinheira e Florisvaldo Mattos deram força a esse movimento nascente. Tanta bobagem passando por poesia é publicada com destaque na imprensa do Rio e São Paulo, que ler esses poetas de “Hera” é um refrigério.

A poesia é um mistério. Ela sopra onde quer. Enquanto alguns zumbis perdidos na pós-modernidade ficam alardeando a morte da arte e a morte da poesia ela surge generosa, jovem e necessária. Como nesses poetas de Feira de Santana.

 

 

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[Comentário na Rádio Metrópole, 4.1.2013]

 

 

 

 

 

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Affonso Romano de Sant’Anna: Um dia dizendo seus poemas no Festival Internacional de Poesia Pela Paz, na Coréia (2005), ou fazendo uma série de leituras de poemas no Chile, por ocasião do centenário de Neruda ( 2004), ou na Irlanda, no Festival Gerald Hopkins(1996), ou na Casa de Bertold Brecht, em Berlim(1994), outro dia no Encontro de Poetas de Língua Latina(1987), no México, ou presente num encontro de escritores latino-americanos em Israel(1986), ou participando o International Writing Program, em Iowa(1968), Affonso Romano de Sant’Anna tem reunido através de sua vida e obra, a ação à palavra . Nos anos 90 foi escolhido pela revista “Imprensa” um dos dez jornalistas que mais influenciam a opinião pública. Em 1973 organizou na PUC/RJ a EXPOESIA, que congregou 600 poetas desafiando a ditadura e abrindo espaço para a poesia marginal; foi assim quando em 1963, no início  de sua vida literária, tornou-se um dos organizadores da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, em Belo Horizonte. Com esse mesmo espírito de aglutinar e promover seus pares criou, em1991, a revista “Poesia Sempre” que divulgou nossa poesia no exterior e foi lançada tanto na Dinamarca, quanto em Paris, tanto em São Francisco quanto New York, incluindo também as principais capitais latino-americanas. Atento à inserção da poesia no cotidiano, produz poemas para rádio, televisão e jornais. Tendo vários poemas musicados (Fagner, Martinho da Vila), foi por essa e outras razões convidado a desfilar na Comissão de Frente da Mangueira na homenagem a Carlos Drummond de Andrade, em 1987.  Apresentou-se falando seus poemas, em concerto, ao lado do violonista Turíbio Santos. Tem também quatro CDs de poemas: um gravado por Tônia Carrero, outro comparticipação especial de Paulo Autran, outro na sua voz editado pelo Instituto Moreira Salles e o mais recente outro pela Luzdacidade, com a participação de atrizes e escritoras. Seu CD de crônicas, tem participação especial de Paulo Autran. Escreveu dezenas de livros de ensaios e crônicas. Como cronista, aliás, substituiu Carlos Drummond de Andrade no “Jornal do Brasil” (1984). Blogue: http://affonsoromano.com.br/blog/index.php E-mail: santanna@novanet.com.br




Comentários (3 comentários)

  1. jecilma, Fico imensamente feliz em saber que minha dissertação de mestrado sobre a HERA foi lida e apreciada pelo professor e autor de livros que ajudaram na minha formação. Sinto que estou no caminho certo. Obrigada!
    8 janeiro, 2013 as 13:12
  2. jecilma, Os poetas da HERA e o movimento que eles incorporam são importantes marcos na literatura brasileira, mas precisam ser reconhecidos como tal. Sinceramente, acredito que temos no grupo Hera alguns dos melhores poetas brasileiros dos últimos anos, como Roberval Pereyr e Antonio Brasileiro, por exemplo.
    8 janeiro, 2013 as 13:15
  3. admin, Jecilma, envie sua dissertação de mestrado para publicarmos aqui na Musa Rara. Email: sonartes@gmail.com
    8 janeiro, 2013 as 16:44

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