O cinema de Sylvio Back


 

Com abordagens que propõem novas leituras da história do Brasil, filmes que articulam imagens de arquivo, sagas de figuras e conflitos reais, Sylvio Back completa oitenta anos de vida e sessenta de cinema.

Nascido em Blumenau, com carreira desenvolvida no Paraná e no Rio de Janeiro, se notabiliza pela investigação histórica do autoritarismo brasileiro, em episódios associados a grandes conflitos armados, como a Guerra do Paraguai e a influência nazista no Brasil, durante a Segunda Guerra Mundial; destacou-se também, como poeta, com uma lírica de forte tonalidade erótica.

Egresso do contexto do Cinema Novo, foi aos poucos aproximando-se tanto de formas documentárias singulares, quanto da exploração pioneira de imagens e sons de filmes antigos como matéria-prima para o chamado documentário de arquivo, linguagem que desenvolve desde o final dos anos 1970.

Toda a programação tem entrada gratuita. Os ingressos são distribuídos na bilheteria a partir de uma hora antes da sessão.

[Extraído da página da Cinemateca]

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A guerra dos pelados
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Sinopse
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Outono de 1913, interior de Santa Catarina. Campanha do Contestado. A concessão de terras a uma companhia da estrada de ferro estrangeira para explorar suas riquezas através de uma serraria subsidiária, e a ameaça de redutos messiânicos de posseiros expropriados, geram um sangrento conflito na região. Por exigência dos “coronéis”, forças militares regionais e o Exército Nacional intervêm. Mas os “pelados” (assim chamados por rasparem a cabeça) se revoltam, protagonizando uma resistência à semelhança de Canudos.

 

Cruz e Souza – O poeta do desterro

Sinopse:

Biografia do poeta brasileiro, filho de escravos, João da Cruz e Sousa (1861-1898), fundador do Simbolismo no Brasil e considerado o maior po¬eta negro da língua portuguesa. Através de 34 “estrofes visuais”, o filme rastreia desde as arrebatadoras paixões do poeta em Florianópolis (SC) até seu trágico fim no Rio de Janeiro.

 

Confira a programação: www.cinemateca.gov.br/mostra/sylvio-back-80-filmes-noutra-margem

 

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Mais informações sobre o cineasta:


Sylvio Back
define sua obra cinematográfica como “filmes noutra margem”, explicitando, “… trata-se do que chamo de um “cinema desideologizado”, onde não procuro fundar nenhuma verdade, crítico e iconoclasta face às instituições, e livre de quaisquer palavras de ordem política e das estéticas de plantão”. Muitas vezes patrulhado, omitido e desqualificado, mas que jamais flerta com o público nem com a crítica”, Back abomina tanto o “cinema clientelista” (na definição do cineasta e historiador francês, Marc Ferro), entre nós conhecido como “chapa branca”, quanto o filme hagiográfico, que transforma personalidades da nossa historia, política e cotidiano em santos, sem contraditórios ou vezo revisionista. “Gosto de resgatar a dignidade perdida do homem, sua complexidade e grandeza sempre surrupiadas pelo poder, seja privado e/ou da academia, seja pelo Estado, ou quando se esquecem de sua obra, de seu risco artístico e espiritual”. E arremata: “Faço um cinema moral, que sempre desconfia; minha postura é ética, nem política nem ideológica. Sou um cineasta libertário”.

Sem jamais ter premeditado projeto nesse sentido, os filmes de Sylvio Back acabaram por mapear os principais  acontecimentos históricos, políticos, ecológicos e sociais do Cone Sul, como as missões jesuíticas do Paraguai (em “República Guarani”); a Guerra do Contestado (em duas películas, “A Guerra dos Pelados” e “O Contestado – Restos Mortais”); o Golpe de 1930 (no doc “Revolução de 30”); Guerra do Paraguai (em “Guerra do Brasil); o Brasil na II Guerra Mundial (“Rádio Auriverde” e “Aleluia, Gretchen”, seu filme mais polêmico); a questão indígena (em “Yndio do Brasil”); as imigrações capitais do extremo-sul, a alemã em “Aleluia, Gretchen” e a polonesa, em “Vida e Sangue de Polaco”, “Os Imigrantes” e “Crônica Sulina”; as transformações urbanísticas da capital paranaense (em “Curitiba, Amanhã” (1966), “Curitiba, uma Experiência em Planejamento Urbano (1974) e “A Escala do Homem” (1982); e as biopics, os longas-metragens, “Cruz e Sousa – Poeta do Desterro”; e “Lost Zweig” (onze prêmios nacionais e internacionais); “A Babel da Luz” (curta-metragem vencedor do Festival de Brasília, 1992 e ganhador da “Margarida de Prata” – CNBB) e “O Auto-Retrato de Bakun”, prêmio “Glauber Rocha” da Jornada da Bahia, 1984, emocionado resgate crítico de dois gênios de província, a poeta Helena Kolody e o pintor Miguel Bakun.

Pelo descrito, um cinema absolutamente autoral e, também, solitário que, pela primeira vez, coloca com grandeza artístico-cultural o extremo-sul no mapa audiovisual brasileiro e internacional. Glauber Rocha, que admirava a obra de Back, especialmente, “A Guerra dos Pelados”, “Aleluia, Gretchen” e o projeto, então, embrionário, de filmar “República Guarani”, o chamava de “cacique do sul”. Justamente, porque a maioria dos seus filmes retrata poeticamente a realidade, inclusive, ambiental (em “Um Brasil Diferente?” (1978), “Sete Quedas” e “A Araucária: Memória da Extinção”, esses de 1980), e o imaginário da história, memória, cultura e arte do sul do país, a par do resgate de temáticas latino-americanas tão caras à alma telúrica brasileira.

São 76 láureas nacionais e internacionais conquistadas até o momento pela sua vasta obra, a ponto de Sylvio Back ter sido brindado pelo jornal “Libération” (Paris, 1987) com o epíteto de “o cineasta mais premiado do Brasil”. Ainda assim, costuma asseverar que “meus filmes são melhores do que eu”.

Em 2011, recebe a insígnia de Oficial da Ordem do Rio Branco, concedida pelo Ministério das Relações Exteriorespelo conjunto de sua obra cinematográfica e de roteirista. 

Em 2012, Back é eleito para o PEN Clube, tornando-se o primeiro cineasta brasileiro, também poeta e escritor, a integrar o prestigioso organismo internacional.

Por indicação do Governo de Alagoas, em 2013 recebe a comenda de Cavaleiro da Ordem do Mérito Palmares,como reconhecimento pelos “relevantes serviços prestados à sociedade brasileira no campo cultural”.

2015: Eleito presidente da DBCA – Diretores Brasileiros de Cinema e do Audiovisual, sociedade de gestão coletiva pela defesa dos direitos autorais do diretor.

Desde 1980, Back tem praticamente toda a sua obra de curtas, médias e longas-metragens, primeiro lançada em vídeo (CIC-Vídeo, São Paulo, 1988), “Zweig: A Morte em Cena” (Coleção “Brasilianas”, FUNARTE, Rio de Janeiro, 1995); Frontlog-TV Cultura de São Paulo (2000); e   atualmente em DVD, as coleções I e II, cada pack contendo seis longas-metragens sob o título “Cinemateca Sylvio Back”, pela distribuidora DVDVersátil, de São Paulo.

(*) Enciclopédia do Cinema Brasileiro

(org. Fernão Pessoa Ramos e Luiz Felipe Miranda)

3ª Edição, Senac, São Paulo, 2012.

(verbete ampliado e atualizado em 2017)

 




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