Literatura contemporânea japonesa


 

Diogo Kaupatez é tradutor do japonês e do inglês. Acaba de criar a estilosa C33 Editora e mostra-nos abaixo o seu primeiro lançamento. A julgar pelas estampas de seus carimbos (acima) já dá pra perceber que o biscoito é fino e pleno de repertório. A partir de agora, Diogo passa a colaborar com a Musa. [da Redação]

 

 

The Fourth Treasure foi publicado em 2002, ano em que trabalhava como assistente editorial em uma editora conceituada, embora somente aos entendidos. “Você arrumou emprego no metrô?”, perguntavam os outros. A dita começava a despontar no espaço editorial como referência em literatura japonesa no Brasil, principal razão da minha contratação — em tese, eu tinha potencial para contribuir horrores.

Avaliar originais era uma das atribuições. De acordo com o editor, bastavam vinte segundos para descartar os autores nacionais. Uma falta de consideração, pensei, com seres humanos — seres humanos! — que dedicavam anos, décadas, redigindo o romance de suas vidas e cultivando o sonho de serem publicados.

Eu ainda era jovem.

Originais estrangeiros, por sua vez, exigiam leitura mais cuidadosa, afinal já passaram por crivos. The Fourth Treasure era de autoria de um norte-americano sansei, Ph.D. em ciências e matemática pela Universidade de Berkeley, professor de ciências cognitivas e pesquisador, na Universidade do Colorado, de aplicações práticas para inteligências artificiais. Fodão, pensei. O livro era ilustrado por sua esposa, artista especializada em arte japonesa.

A narrativa é centrada em Kiichi Shimano, professor de caligrafia shodô que, por um lançar de dados do destino, abandona a posição de diretor de uma renomada escola em Quioto para fundar e administrar um irrelevante estabelecimento de shodô em São Francisco. Algumas páginas depois, o sensei sofre um derrame e se vê com agrafia e afasia, incapaz de se comunicar de forma coerente. Prisioneiro de si, resta a Shimano se expressar por meio de arremedos, indiscerníveis, de ideogramas.

.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

emergir

e

submergir

.

Eis que Tina Suzuki, estudante de neurociências na Universidade de Berkeley, inteira-se da situação do professor e procura interpretar seus abstracionismos sob a ótica da medicina moderna, em uma busca pela raiz da consciência humana que opõe conceitos ocidentais e orientais.

Para amarrar os fios narrativos, Todd Shimoda utiliza o tempo presente nos Estados Unidos, o Japão do boom econômico dos anos 1970 e a Edo da metade do século 17, época em que concursos opunham as maiores escolas de caligrafia do período. Para explicar termos médicos e ensinar os fundamentos do shodô, o autor cria, em perfeita sintonia com o texto, o caderno de neurociência de Tina Suzuki e a apostila da Escola Zenzen de Caligrafia. Bela solução, Todd.

Fui à sala do editor recomendar a publicação de The Fourth Treasure. Recusada. Em menos de vinte segundos.

 

[Uma das embalagens feitas pelo Diogo para a remessa de cada exemplar encomendado]

 

.

Pedidoswww.facebook.com/c33editora/

 

.

Todd Shimoda fala sobre outro de seus livros:

 


 

 

 

 

 

 

.

Diogo Kaupatez é tradutor graduado e pós-graduado em japonês pela FFLCH/USP. Trabalhou como vendedor na Livraria Cultura e Livraria da Vila e traduziu obras para as editoras Cosac Naify e Planeta. Em 2016, fundou a editora C.3.3. e publicou O quarto tesouro, seu primeiro título. Em 2017, pretende publicar O belo caminho: história da homossexualidade no Japão, de Gary Leupp, e Cartas, de Keigo Higashino. E-mail: diogokaupatez@gmail.com Face: www.facebook.com/c33editora/

 

 




Comente o texto


*

Comente tambm via Facebook