Lawrence Ferlinghetti


por Claudio Willer

Teria havido Beat Generation sem Ferlinghetti? Acho que sim, mas demoraria um pouco mais. O desassombro ao publicar Howl and other poems de Ginsberg, encarando o subsequente processo, é histórico. City Lights já existia há alguns anos. Entre seus primeiros títulos, coletâneas de Antonin Artaud e Jacques Prévert. Atualizou. Sabia onde queria chegar.

Quando traduzi Ginsberg – 1982/83, ele vivia um drama: continuar na City Lights, manter-se fiel a Ferlinghetti, ou passar para a Harper & Collins e mudar de escala, para finalmente manter-se com a venda de livros.

Cadê a imagem do evento de 100 anos de Ferlinghetti na Livraria Travessa, outubro de 2019, quando li aquele incrível poema sobre os velhos italianos?

Vou publicar mais sobre ele. por enquanto, a sinopse biográfica que está em meu Geração Beat (onde é citado e comentado em inúmeras outras passagens) (a matéria do NY Times tem mais) (eu teria mais – voltarei ao assunto).

Lawrence Ferlinghetti nasceu em Nova York a 24 de março de 1919.[1] Filho de um imigrante italiano, foi criado por uma tia francesa. Passou seus primeiros cinco anos de vida em Strasbourg, França: outro bilíngüe na beat. Antes de servir no exército, foi jornalista esportivo e pescador; já publicava contos. Na Segunda Guerra participou, como oficial na marinha, da invasão da Normandia em 1944, e, em 1945, chegou a Nagasaki seis semanas depois da explosão da bomba atômica, o que consolidou suas convicções pacifistas. Com uma bolsa para veteranos de guerra, graduou-se e fez mestrado em Columbia, e doutorou-se em literatura na Sorbonne, antes de estabelecer-se em San Francisco em 1953. Atuou como ponte entre a literatura americana e a francesa,[2] surrealismo inclusive. Tanto é que entre os primeiros títulos da City Lights estavam coletâneas de textos de Antonin Artaud e Jacques Prévert. É autor de A Coney Island of the MindUm Parque de Diversões da Cabeça,[3] outro livro de poesia que já vendeu milhões de exemplares; a reunião de poesias Endless Life, Vida Sem Fim;[4] The Secret Meaning of ThingsO Significado Secreto das Coisas; a prosa poética de Her (Dela), textos políticos como Tirannus Nix? e tantos outros. Também é pintor. Sempre esteve presente no front político, incluindo suas viagens a Cuba em 1960, à Nicarágua sandinista nos anos 1980 e, mais recentemente, em apoio aos zapatistas mexicanos.

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[1] Até a preparação deste livro, continua vivo.
[2] Conforme mostra Christopher Sawyer-Lauçanno no já citado Escritores Americanos em Paris1944-1960.
[3] Ferlinghetti, Um Parque de Diversões da Cabeça, tradução de Eduardo Bueno e Leonardo Fróes, L&PM Pocket, 2007 (reedição, já lançada em 1984)
[4] Ferlinghetti, Vida Sem Fim, tradução Nelson Ascher, Paulo Leminski, Marcos A. P. Ribeiro, Paulo Henriques Britto, Brasiliense, 1984.

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Claudio Willer é poeta, ensaísta e tradutor. Tem formação acadêmica como sociólogo (Escola de Sociologia e Política) e psicólogo (Instituto de Psicologia – USP) e doutorado em Letras Comparadas, pela Universidade de São Paulo. Ocupou diversos cargos e funções em administração cultural, foi assessor na Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, responsável por cursos, oficinas literárias, ciclos de palestras e debates, leituras de poesia, de 1994 a 2001; e participou de dezenas de congressos, seminários, ciclos de palestras, apresentações públicas de autores, etc, no Brasil e no exterior. Foi presidente da União Brasileira de Escritores por dois mandatos, entre 1988 e 1992. Foi novamente eleito em 2000 e re-eleito em 2002. Foi também secretário geral da UBE em outros dois mandatos (1982-86), e presidente do Conselho da entidade (1994-2000). Algumas obras: Anotações para um Apocalipse, Massao Ohno Editor, 1964, poesia e manifesto; Dias Circulares, Massao Ohno Editor, 1976, poesia e manifesto; Os Cantos de Maldoror, de Lautréamont, 1ª edição Editora Vertente, 1970, 2ª edição Max Limonad, 1986, tradução e prefácio; Jardins da Provocação, Massao Ohno/Roswitha Kempf Editores, 1981, poesia e ensaio; Uivo, Kaddish e outros poemas de Allen Ginsberg, L&PM Editores, 1984 e sucessivas reedições, seleção, tradução, prefácio e notas; nova edição, revista e ampliada, em 1999; edição de bolso, reduzida, em 2.000; Crônicas da Comuna, coletânea sobre a Comuna de Paris, textos de Victor Hugo, Flaubert, Jules Vallés, Verlaine, Zola e outros, Editora Ensaio, 1992, tradução; Volta, narrativa em prosa, Iluminuras, 1996, segunda edição, 2002; Lautréamont – Obra Completa – Os Cantos de Maldoror, Poesias e Cartas, edição prefaciada e comentada, Iluminuras, 1997; segunda edição em 2003. E-mail: cjwiller@uol.com.br




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