Expectativas quanto ao Prêmio Nobel


 

No próximo dia 13, é bem provável que Haruki Murakami seja anunciado como o vencedor do Nobel de Literatura 2016, o que era aguardado há alguns anos. Para mim, será uma grande injustiça, pois o escritor japonês, a cada obra torna-se mais bizantino e artificioso. Seu romance ambicioso em três volumes, 1Q84 revelou-se uma abobrinha, uma mixórdia quase ilegível. Em compensação os outros quatro autores mais cotados (Philip Roth, Ngugi wa Thiong’o e Joyce Carol Oates) são notáveis. Eu tenho um apreço todo especial pela obra de Oates, e torcerei por ela, mas não dá para negar a influência universal da obra de Roth, e o queniano Thiong’o, que escreveu um admirável livro de memórias (Sonhos em Tempos de Guerra); aliás, a academia sueca tem uma longa dívida com países africanos.

A morte de Umberto Eco, escancarou o desprezo por uma magnifica geração de intelectuais e escritores italianos. Favorito há tempos atrás, o grande Claudio Magris deveria ser finalmente reconhecido, são dele algumas das obras mais inclassificáveis e apaixonantes das últimas décadas (Danúbio; Microcosmo; Alfabetos).

No entanto, o descalabro mais evidente é com a nossa língua. Dá para acreditar que em 116 anos só um autor foi premiado (José Saramago)? Atualmente, Portugal apresenta a literatura mais interessante da União Europeia. Além dá venerável decana Agustina Bessa-Luís (A Sibila), temos o gênio António Lobo Antunes, único autor que rivaliza com Joyce Carol Oates na produção incessante de romances ciclópicos. Outro gênio, com uma escritura que não parece com ninguém é António Vieira (Olhares de Orfeu). Dá mesma geração temos a maravilhosa obra de Lídia Jorge (Combateremos a Sombra), e Almeida Faria (A Paixão). É tão notável a ficção portuguesa, que até os mais jovens mereceriam o Nobel, caso de José Luís Peixoto (o maior escritor surgido nesse século), Gonçalo M. Tavares e Walter Hugo Mãe.

No caso do Brasil nossos maiores escritores são nonagenários, se isso for um empecilho: Lygia Fagundes Telles, Dalton Trevisan e Rubem Fonseca. Contudo a escritores menos macróbios: Raduan Nassar, Maria Valéria Rezende, Francisco J. C. Dantas, além de poetas como Carlos Nejar e Adélia Prado. E o que dizer da obra peculiaríssima de Elvira Vigna, um diamante nunca lapidado, porque ela se move num universo cheio de arestas? E já seria a hora de reconhecer a originalidade e contundência da obra de Ricardo Lísias, expoente de uma nova e explosiva geração literária.

E por falar em Ricardo, o Nobel que sempre ignorou a extraordinária literatura argentina, bem poderia premiar Ricardo Piglia, que passa pelo drama de ser portador da E.L.A (Esclerose Lateral Amiotrófica), não só pela tragédia de cunho pessoal, como pela sua desafiadora obra (Respiração Artificial; Nome Falso; O Último Leitor).

Mas isso são meros palpites. De minha parte, estarei fazendo figa para Joyce Carol Oates ser galardoada ao invés de Murakami.
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[Uma versão da resenha acima foi publicada originalmente em A TRIBUNA de Santos, em 11 de outubro de 2016]

 

 

 

 

 

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Alfredo Monte é natural da Baixada Santista, corinthiano, doutor em teoria literária e literatura comparada, professor apaixonado pelo ensino fundamental e crítico literário do jornal A TRIBUNA de Santos há 19 anos. Mantém o blog literário Monte de Leituras há quatro anos. E-mail: armonte2001@yahoo.com.br




Comentários (2 comentários)

  1. paulo vilara, Interessante, ainda que não tenha sequer desconfiado (aliás, como nem o próprio premiado) da premiação a Bob Dylan.
    17 outubro, 2016 as 13:08
  2. Adelice Souza, Olá, gostei muito do teu texto. Sim, os três rapazes portugueses são excelentes. E ainda há um quarto, o poeta e dramaturgo Abel Neves, que é mesmo precioso. Seus “Eis o amor a fome e a morte”, “Quasi Stelar” e “Úsnea” são ouro fino. Sou escritora baiana e gostaria de te enviar o meu primeiro romance. Grande abraço da baía de todos os santos.
    17 outubro, 2016 as 21:59

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