Como comprar um livro



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Tenho em casa um livro intitulado: “Como ler um livro”. Parece piada, mas é um livro sério. Os autores são dois americanos (Mortinmer e Van Doren). Foi publicado nos anos 40. E um livro prático, bem Americano, e ao final há até uma lista de obras a serem lidas e sugestões de trabalho. Terminada a leitura você se convence que o título do livro era muito apropriado, porque mesmo a maioria das pessoas que sabe ler, não sabe como ler um livro.

Há tempos que penso em escrever algo em torno de “Como comprar um livro”. Parece também um título de brincadeira. A primeira e instintiva resposta é: “- Uai! Basta ter algum dinheiro, entrar na livraria e pronto”.

Antes fosse. Vejamos.

Suponhamos que você tem o tal dinheiro para adquirir o livro. (Embora ter dinheiro pareça natural para alguns, para imensa maioria dos brasileiros isto ainda é um problema). Mas suponhamos que, tendo dinheiro, você pertença à minoria dos que leem livros. (Até hoje não se sabe ao certo se os que compram livros no Brasil são 10 ou apenas 1 milhão de pessoas – entre os 200 milhões). Mas digamos que você, leitor de jornal, queira comprar um livro. Aí tem duas alternativas: ou vai a uma livraria ou procura na internet. Se você pretende ir a uma livraria vai ter alguns problemas. Se mora num bairro com várias livrarias, é, em princípio, uma pessoa de sorte. Se mora alhures, a coisa complica. Quando muito, terá alguma papelaria, não livraria. Se vive no interior, aí complicou de vez. A maioria das cidades brasileiras não tem livrarias. Há cerca de seis mil municípios e temos só umas três mil livrarias, e a maioria concentrada em certos bairros das grandes capitais.

Mas suponhamos que você tenha a sorte de entrar numa livraria. As maiores têm bares e restaurantes para atrair a clientela. Mas você está lá para comprar livro, não é? Você leu no jornal que o livro tal foi lançado. Mas como os jornais concorrrem uns com os outros na pressa das notícias, o livro ainda não chegou à livraria. Se o livreiro for atento, pode anotar seu endereço e lhe avisar. Se você não for obsessivo vai comer um sanduíche e esquecer do livro.

Se o livro que procura saiu há algum tempo, o atendente na maioria das vezes vai ao computador verificar. Metade das vezes ele diz que o livro está esgotado ou apenas no estoque. Isto nem sempre é verdade. Você pensa, depois eu volto. E não volta. Perdeu-se uma venda.

Portanto, sugiro: você tem que ter um livreiro de confiança como antigamente se tinha o contrabandista que lhe fornecia whisky.  Não existe o “personal”para tudo? Tenha uma pessoa para buscar o seu livro como um infatigável cão de caça.

As livrarias mais inteligentes têm que criar um serviço de entrega a domicílio, como pizzarias fazem com a pizza.

Mas você, contemporâneo da informática, mora no interior e resolve usar a internet. Todo mundo diz que é fácil, maravilhoso. Não é bem assim. Pode tentar na “Cultura”, na “Saraiva”.  A “Estante Virtual”, embora um ou outro problema, tem sido útil para quem quer livros que não se encontram em livrarias. Ou seja, comprar ingresso de cinema e teatro é fácil. É mais fácil até comprar os livros na “Amazon”, no exterior.

Outra alternativa é “baixar” o livro  no seu iPad. Mas isto funciona melhor para os livros estrangeiros, a lista de livros nacionais é pequena e, em geral, você tem que ser uma fera em informática, quase um engenheiro da NASA, para ter êxito nessa operação de “baixar” algo.

Daqui a dez anos quando alguém ler esse artigo vai se espantar, porque tudo será diferente. Melhor? Pior? Imprevisível. O que escrevo aqui hoje – “Como publicar um livro” – pode não valer para amanhã. Daqui a dez anos não sei se haverá livrarias, se haverá editoras e, segundo uns pensadores franceses, o “autor” morreu há muito e apenas esqueceu de se deitar no caixão.

 

 

 

 

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Affonso Romano de Sant’Anna: Um dia dizendo seus poemas no Festival Internacional de Poesia Pela Paz, na Coréia (2005), ou fazendo uma série de leituras de poemas no Chile, por ocasião do centenário de Neruda ( 2004), ou na Irlanda, no Festival Gerald Hopkins(1996), ou na Casa de Bertold Brecht, em Berlim(1994), outro dia no Encontro de Poetas de Língua Latina(1987), no México, ou presente num encontro de escritores latino-americanos em Israel(1986), ou participando o International Writing Program, em Iowa(1968), Affonso Romano de Sant’Anna tem reunido através de sua vida e obra, a ação à palavra . Nos anos 90 foi escolhido pela revista “Imprensa” um dos dez jornalistas que mais influenciam a opinião pública. Em 1973 organizou na PUC/RJ a EXPOESIA, que congregou 600 poetas desafiando a ditadura e abrindo espaço para a poesia marginal; foi assim quando em 1963, no início  de sua vida literária, tornou-se um dos organizadores da Semana Nacional de Poesia de Vanguarda, em Belo Horizonte. Com esse mesmo espírito de aglutinar e promover seus pares criou, em1991, a revista “Poesia Sempre” que divulgou nossa poesia no exterior e foi lançada tanto na Dinamarca, quanto em Paris, tanto em São Francisco quanto New York, incluindo também as principais capitais latino-americanas. Atento à inserção da poesia no cotidiano, produz poemas para rádio, televisão e jornais. Tendo vários poemas musicados (Fagner, Martinho da Vila), foi por essa e outras razões convidado a desfilar na Comissão de Frente da Mangueira na homenagem a Carlos Drummond de Andrade, em 1987.  Apresentou-se falando seus poemas, em concerto, ao lado do violonista Turíbio Santos. Tem também quatro CDs de poemas: um gravado por Tônia Carrero, outro comparticipação especial de Paulo Autran, outro na sua voz editado pelo Instituto Moreira Salles e o mais recente outro pela Luzdacidade, com a participação de atrizes e escritoras. Seu CD de crônicas, tem participação especial de Paulo Autran. Escreveu dezenas de livros de ensaios e crônicas. Como cronista, aliás, substituiu Carlos Drummond de Andrade no “Jornal do Brasil” (1984). E-mail: santanna@novanet.com.br




Comentários (1 comentário)

  1. Nicia, No Rio, tanto no Centro quanto na Zona Sul, prazeroso é perambular pelas estantes, mesmo que saiba o que quero. Sou de Niterói onde, ao contrário, conseguiram que existam apenas, pasme, 3 livrarias e as salas de cinemas do Cinemark Plaza. Amo essa cidade mas, convenhamos, o pessoal prefere frequentar araras de roupitas e estantes de calçados. Com essa escassez, passei a comprar livros on-line. A Travessa é fantástica! Em 2 dias o exemplar está em minhas mãos, sem tx. Já meu personal livreiro é o José Castello. Em tempo, sou sua leitora e da Marina e assisti sua palestra no Miraflores, onde minha filha estudou.
    31 março, 2012 as 20:39

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