A materialidade do concreto



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Arte e invenção: a materialidade do concreto

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Os aspectos materiais da produção de livros e folhetos de determinado movimento literário são, por vezes, tão curiosos quanto a própria elaboração da escrita, pois são parte intrínseca da gênese e divulgação do movimento. Foi a busca desse conhecimento em relação à poesia concreta que me levou, em meados de 2009, a conversar com Augusto de Campos e, em seguida, procurar alguns outros agentes desse processo, co-responsáveis por essa produção. Esses aspectos da criação cultural, que usualmente passam despercebidos, perdem-se pela pouca importância que lhes é dada: essas informações não costumam ser registradas, tampouco divulgadas. No caso da poesia concreta, desde já dois nomes merecem destaque: na feitura das obras, a figura marcante foi a de Julio Plaza (1938-2003); no apoio financeiro, o mecenato desprendido de Erthos Albino de Souza (1932-2000).

Os primeiros livros de Décio Pignatari (O carrossel – 1950), Haroldo de Campos (Auto do Possesso – 1950) e Augusto de Campos (O rei menos o reino – 1951), pouco tinham de requintes gráficos. Esses três intelectuais, no entanto, são conhecidos pela poesia concreta, cuja plasticidade e estética tomam frente versus demais aspectos do fazer poético. Ao mesmo tempo em que editam suas primeiras publicações, tomam conhecimento de outro movimento que surgia em São Paulo, o da arte concreta com o Grupo Ruptura, encabeçado por Waldemar Cordeiro. Augusto conta que o grupo de poetas hauriu muitas coisas deles, das conversas. Cita especificamente a primeira Bienal, de 1951 – foi uma época de assimilação. Essa assimilação, aliás, se deu em diversos níveis, apresentando ao público e, em específico, aos artistas brasileiros, a arte abstrata e concreta internacional, com destaque para a escultura “Unidade Tripartida” de Max Bill, que seria premiada.  A arte concreta encontrara, na poesia, campo fértil, e uma revolução na poesia paulista, de repercussão internacional, estava tomando forma. Em 1952 é criado o grupo Noigandres, com a publicação da revista homônima, mas as dificuldades encontradas na reprodução das formas poéticas por eles idealizadas não foram poucas.

Logo de início se apresentaram as dificuldades técnicas nessa reprodução das poesias: a série Poetamenos, de poesias coloridas de Augusto, que sairia no segundo volume da Noigandres, foi a primeira a apresentar dificuldades. O volume ficara por conta deles apenas, pois Décio Pignatari estava viajando pela Europa, estabelecendo importantes contatos para o grupo, especialmente com o suíço Eugen Gomringer, secretário de Max Bill entre 1954 e 1957, este um dos fundadores da Escola Superior da Forma (Ulm – Alemanha) e seu primeiro diretor. A questão foi sanada a partir de uma sugestão do pai dos irmãos Campos, Eurico de Campos, vendo sua aflição: que utilizassem os serviços de uma tipografia com a qual ele trabalhava. Eurico era gerente da Cooperativa Central de Laticínios (“Leite Paulista”) e o material da cooperativa, a que estavam filiados muitos produtores do Vale do Paraíba, era feito por uma pequena empresa, em tipografia, manualmente. Eles tinham um tipo não serifado, o Kabel, desenhado pelo alemão Rudolf Koch e lançado em 1927 pela fundição Klingspor. O Kabel era próximo do bauhausiano Futura, o preferido dos concretos paulistas, e Augusto o escolheu para impressão. O tipógrafo, muito habilidoso, utilizava uma “máscara”, fazia recorte de um papelão duro. Ele imprimia o vermelho, tirava a máscara, imprimia o verde… e deu certo, salvo alguns poucos casos nos quais o registro se sobrepôs. Se a tiragem fosse de duzentos exemplares o custo seria bem mais caro, acima de nossas posses, por isso tivemos que nos contentar com a metade. Os textos de “Poetamenos” eram de 1953 e já estávamos em fins de 1954. Para poder publicá-los, eu e Haroldo sacrificamos boa parte dos poemas, e nos limitamos aos poemas em cores e ao CLAUSTROFOBIA, de Haroldo. O motivo das pequenas tiragens era apenas uma questão de preço, saia caríssimo. Não tinham, portanto, condições de fazer belas edições com tiragens mais significativas – aliás, muito provavelmente não haveria, também, público significativo para tiragens de maior vulto.
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Após a experiência com a revista-livro Noigandres (cinco números, de 1952 a 1962), criaram uma editora fictícia para a impressão de seus trabalhos: Edições Invenção. A revista Invenção, publicada também em cinco números (1962 a 1967), tinha Décio Pignatari como responsável, por ser o único com carteira de jornalista.  O grupo cuidava de todos os aspectos da edição: da impressão à distribuição – boa parte dava-se de mão em mão. As primeiras publicações não eram vendidas, mas distribuídas a intelectuais e interessados. Suas edições, a partir de Invenção, começaram a ser vendidas em algumas poucas livrarias paulistanas que aceitavam as obras em consignação. Fato, aliás, que explica o conhecimento e até mesmo a valorização desses autores, mesmo com sua projeção internacional, ser mais intenso na capital paulista. Hoje é, muitas vezes, mais fácil encontrar obras dos autores concretos fora de São Paulo, mesmo que sua produção não tenha circulado tanto, pois os sebos da capital paulista são continuamente varados por estudiosos, apreciadores e colecionadores de sua obra.  A razão de poucas livrarias, ou galerias, se interessarem pelas obras está em seu caráter intermediário: eram caras para o mercado livreiro, baratas para o mercado de arte; parte da produção não era propriamente de livros, não sendo também obras de arte no sentido clássico.

Foi também no período dos anos 1950, no início de seus projetos de tradução, que Augusto teve uma de suas experiências mais ricas como tradutor:

Escrevi a Cummings em 1956 e ele exigiu rever as provas do texto original, alegando que até em sua edição de poemas completos, apesar do cuidado dele, da mulher e de um revisor especializado, tinha havido muitos erros. A apresentação gráfica dos poemas de Cummings é de alta precisão. É um artesão extremamente rigoroso e sutil. Cada letra tem uma posição determinada no espaço, e há diferenças entre o “datilografês”, o “tipografês” e o “linotipês”, que exigem adaptações. Os poemas eram compostos no Rio, na Imprensa Nacional, em tipografia manual. Eu pedi duas provas de cada página. Vertia as correções de Cummings para a prova-gêmea e guardava as corrigidas pelo poeta. Os tipógrafos corrigiam aqui e descorrigiam ali. Houve ao todo oito provas e a batalha só terminou quando eu tirei férias e fui à Imprensa Nacional no Rio trabalhar pessoalmente com o tipógrafo. Afinal, a edição [1960] saiu quase sem erros (descobriu-se depois um parêntese fora do lugar na última linha do poema “i will be”). Foi trabalhoso, mas em compensação fiquei com uma documentação valiosíssima — as correções do próprio punho de Cummings, das quais selecionei algumas páginas para a edição da Brasiliense [1986], pela primeira vez publicadas com as cores originais[1].

A grande colaboração com os poetas concretos, especialmente no caso de Augusto de Campos, não se deu com nenhum dos artistas do grupo Ruptura, do movimento neoconcreto, mas com Julio Plaza, artista e teórico espanhol radicado em São Paulo. Plaza tinha interesse também pela poesia: utilizou-se de letras em seus trabalhos, como no poema-luminoso palindrômico “luz azul”. A primeira colaboração entre os dois foi a caixa de serigrafias móveis de Plaza intitulada “Objetos”. Convidado a escrever um texto de apresentação, Augusto, preferiu compor um poema (ABRE/OPEN) em português e em inglês, utilizando um dos próprios objetos tridimensionais criados por Plaza. Essa caixa daria ensejo ao Poemóbiles, editado em 1974 com objetos-poemas. O Poemóbiles, com suas 12 poesias móveis, foi reeditado duas vezes. A iniciativa da primeira reedição foi financiada por um grupo de diplomatas jovens, interessados em literatura moderna que procuraram Augusto com intuito de promover a republicação do livro-objeto.  Essa segunda edição saiu em 1985 pela Brasiliense, que se encarregou da distribuição do livro produzido por Plaza e financiado pelos diplomatas. A diferença entre as duas edições está especificamente no fechamento da caixa: na primeira era um cordão enrolado em um fecho circular, na segunda Plaza criou uma dobradura mais prática para fechar o livro. Tanto a segunda, quanto a terceira edições do Poemóbiles merecem um aparte.

Na segunda edição consta um agradecimento aos jovens que a promoveram. Consegui o contato de um deles, o agora embaixador Arnaldo Caiche Oliveira, que encaminhou meu pedido a Luis Fernando Panelli Cesar, que também participara do grupo e fez um belo relato da aventura editorial. A princípio, o grupo de jovens queria instituir um concurso para promover literatura, mas também poderiam financiar alguma iniciativa cultural. Por meio de Manoel Carlos Lourenço Gualda (já falecido), que havia defendido dissertação sobre Paul Éluard pela USP em 1982 e conhecia Haroldo de Campos, e Arnaldo Oliveira, entraram em contato com Augusto de Campos, para pedir aconselhamento. Foi sugestão do Augusto chamar o nosso grupo de FIM (Fundação do Impossível)… Aquele bando de garotos com alguma grana na mão, dispostos a bancar projetos editoriais para perder dinheiro só poderia mesmo ter um nome desses. Após conversar com o poeta, decidiram que seria mais interessante bancar um de seus projetos que não encontrara editor, uma reedição. Explicou a dificuldade de editar aquela obra, porque era necessário um grupo de artesãos para cortar com faca, lâmina por lâmina de cada poemóbile. Os editores fugiam do projeto como diabo da cruz, porque o custo de edição era simplesmente insustentável. A menos, claro, que um mecenas decidisse bancar a fundo perdido a edição. Entusiasmados com a publicação, o grupo levantou os custos, juntou os recursos necessários e foi à procura de uma editora. A premiada foi a Brasilense, à época o editor com quem lidaram foi Luiz Schwartz, que fundaria a Companhia das Letras. A publicação foi um sucesso e vendeu a jato. Até ganhamos dinheiro com a edição, o que prova que bons projetos vendem! Com a receita subsidiaram outra publicação, a do livro Hitchcock/Truffaut: entrevistas, também pela Brasiliense, mas o grupo acabou por se afastar de empreendimentos editoriais.
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A terceira edição de Poemóbiles acaba de sair pelo selo Demônio Negro, da Annablume Editora, que já reeditou outra colaboração entre Augusto e Plaza, Reduchamp, originalmente lançado em 1976. O selo é coordenado por Vanderley Mendonça, tipógrafo e tradutor, que formou a dois anos uma parceria com a Annablume para poder comercializar e co-editar obras que requerem um cuidado artesanal. A admiração de Vanderley por Augusto e pela poesia concreta materializou-se pela primeira vez com a re-edição, em 2007, de “Colidouescapo” (1971), editado por Amauta Editorial, de cujo conselho fez parte. Todos os livros do meu selo são feitos sob demanda, possibilitando acabamento manual e um certo requinte, sem onerar muito o custo. Exemplificando essa política de publicação sob demanda, podemos utilizar as sucessivas tiragens de Poemóbiles: 220 exemplares foram preparados para o lançamento, em novembro de 2010; 100 em janeiro de 2011; 50 em fevereiro; e 110 estão sendo preparados para março. Acredito que para a Poesia, principalmente a experimental, é uma opção viável nestes tempos. Seu foco está na publicação de obras relevantes, experimentais, denominada Biblioteca Universal Demônio Negro, e na re-edição de obras do mesmo cunho que se tornaram raras. Para tal empreendimento, diz Vanderley:  Estudei particularmente a tipografia na escola superior de artes gráfica e tipográficas de Leipzig, as formas de acabamento, costura e encadernação. Isso não significa, no entanto, um apego saudosista ao antigo. Gosto muito dessa moderna oferta do livro digital. Mas como artista gráfico, tenho como objetivo usar e preservar as formas de reprodução do livro que se extinguem sem ter muitas vezes sido devidamente exploradas como arte.

Outro trabalho importante, fruto da contribuição entre Augusto de Campos e Julio Plaza, ainda sem re-edição, é a Caixa-Preta, composta de poemas-objetos de Augusto e obras diversas de Plaza, como os “cubogramas montáveis”, além de um disco de Caetano Veloso, com interpretações de dois poemas concretos de Augusto: “dias dias dias” e “pulsar”. Para esse empreendimento tiveram dificuldade no custeio e, não fosse Erthos, que financiou parte considerável da produção, ele poderia não se ter viabilizado. A feitura, como no caso de outras obras, dava-se na espaçosa casa de Plaza, uma casa-ateliê. Uma vez impresso todo o material, reuniam-se poetas, artistas e amigos para a montagem das caixas, a partir de pilhas previamente separadas de impressos. Depois de pronta a edição, fizeram o lançamento da obra numa galeria de arte na Rua Haddock Lobo. Pintou-se de preto a parede da Galeria, e Eudinízio fez uma espécie de happening, se arrastava pelos corredores com um objeto, uma espécie de grande leque desdobrável que chamava de “ligélio”, em homenagem a Lygia Clark e Helio Oiticica. Foi um sucesso, vendeu-se bem, depois colocamos a Caixa Preta na livraria Duas Cidades. A caixa foi também posta na livraria Kosmos, referência no mercado de obras antiquarias. Quando algo era vendido, após 90 dias o valor era com eles acertado.

A outra figura central nos bastidores da poesia concreta foi o engenheiro, bibliófilo, poeta e pesquisador Erthos Albino de Souza, mineiro radicado em Salvador. Como pesquisador, garimpou obras e desvendou questões relacionadas a Pedro Kilkerry, Patrícia Galvão (Pagu) e Sousândrade. Pioneiro no uso do computador para a criação de arte e poesia, assim como para a análise estatística de textos literários, Erthos permanece uma figura invisível no cenário cultural nacional: apenas recentemente sua obra começa a ser revelada ao público, com a montagem de uma exposição[2]. Modesto e generoso privilegiou o apoio a publicações de terceiros, ao invés de centrar-se em seus próprios trabalhos. Entre os poetas concretos, afirma Augusto o maior beneficiário fui eu mesmo. Falando da correspondência entre eles, diz que a minha parte tenho organizada, mas a parte dele pode ter ido para o acervo de Mindlin, que adquiriu uma fração de seu patrimônio. No fim da vida estava com Alzheimer, perdeu a memória e não reconhecia mais ninguém.
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O contato entre Erthos Albino e os irmãos Campos começou em 1962, quando ele tomou conhecimento dos primeiros estudos que realizavam sobre o poeta maranhense Sousândrade. Erthos, então engenheiro da Petrobras em Salvador, se propôs a financiar o projeto de resgate da obra do poeta, sem conhecer os autores pessoalmente – o contato entre eles, até 1969, deu-se exclusivamente por cartas. Segundo Augusto, ele viu a publicação do que seria o embrião da Revisão de Sousândrade, publicada na página “Invenção” do Correio Paulistano (1960), que, depois, saiu na Revista do Livro, do Instituto Nacional do Livro. “Vocês não pensam em editar?” Procurei uma pequena editora, a Obelisco, passei o orçamento ao Erthos e ele, sem titubear, nos mandou um cheque para pagar todos os custos. Além de financiar diversas publicações de poetas concretos e de vanguarda, Erthos fundou em 1973, com o poeta e antropólogo Antônio Risério, a revista “Código”, talvez a mais longeva revista nacional de poesia de vanguarda, com 12 números publicados até 1989.

Os poetas concretos tiveram livros produzidos de forma artesanal pela Noa Noa, de Cleber Teixeira, em Florianópolis, e pela Tipografia do Fundo de Ouro Preto, de Guilherme Mansur. Poemas-cartões e outros trabalhos, notadamente o Ex Poemas (1985), foram impressos pelo artista serígrafo Omar Guedes (1947-1989). Foram os cartões por ele produzidos que Augusto considera os mais bonitos, os mais especiais. Em entrevista a Ana Lúcia Vasconcelos, em 1986, Augusto comentou com mais detalhes essa produção:

Eu trabalho com projetos visuais que funcionam muito bem em grandes dimensões e em cores. Você pode colocar na parede. Acontece que os editores opõem os maiores obstáculos ao uso da cor, alegando que encarece a produção. Daí a idéia de fazermos, eu e o Omar, um trabalho com plena liberdade com os meus poemas. Resolvemos assim, nós dois, bancar a edição. A técnica da serigrafia não permite grandes tiragens. Assim a edição teve que ser limitada a 300 exemplares. Em compensação pudemos fazer uma edição-padrão de alto nível de design, com as cores mais incríveis-verde sobre fundo vermelho, preta sobre preta, ouro sobre preto-já que o Omar tem um domínio absoluto da técnica serigráfica: ele “grava perfume”. Na impressão de ANTICÉU, usamos um “dégradé” de azuis até o branco sobre branco na área em que entra o Braille. Este último poema foi o que deu mais trabalho. Perdemos trezentas cópias devido a um problema com o fotolito, que reduzira ligeiramente as letras. Na minha programação, o ajuste entre os tipos-Braille e as letras tem que ser muito preciso para que se estabeleça o espelho icônico entre as letras “l” e “p” e os signos correspondentes em Braille.

Quando sugeri que, entre as obras dos poetas concretos, a sua seria a mais gráfica, Augusto afirmou que talvez fosse a mais espacial. Sua produção poética, assim, não se restringiu apenas ao papel. Foram, em parceria, elaboradas músicas, vídeos e até mesmo criados poemas-objetos holográficos. Estes foram produzidos com Moysés Baumstein (1931-1991) que, em 1983, monta um laboratório em sua casa. Moysés começara a trabalhar com a técnica no ano anterior, aperfeiçoando-a num workshop com o alemão Dieter Jung. Os poemas-holografias de Augusto de Campos, Décio Pignatari, Julio Plaza e José Wagner Garcia seriam montados na exposição TRILUZ, no Museu da Imagem e do Som em São Paulo, entre dezembro de 1986 e janeiro de 1987. Em seguida, entre outubro e dezembro de 1987, seria montada a TRAMA DO GOSTO – instalação na XIX Bienal de São Paulo com projetos de Júlio Plaza, Décio Pignatari e Augusto de Campos. Por último, entre novembro e dezembro de 1987 seria montada a exposição IDEHOLOGIA, no Museu de Arte Contemporânea da USP, com projetos holográficos de Augusto de Campos, Décio Pignatari, José Wagner Garcia e Júlio Plaza, além do próprio Baumstein. Parte desses trabalhos foi exposta ainda na Fundação Calouste Gulbekian, em Lisboa, na Galeria Horizontes na Espanha e, em 2002, no Centre Régional des Lettres de Basse-Normandie, na França. Esses hologramas nunca foram produzidos em série. A morte prematura de Moysés, a 4 de dezembro de 1991, fez com que cessassem as experiências holográficas.

Perguntado se, em algum momento, a coisa passou a ser auto-sustentável, Augusto diz: acho que nuncaLivro de poesia, comercial, o primeiro que saiu meu foi em 1979, eu tinha 48 anos. Eu ia muito a Duas Cidades, que era também editora. Antes, no entanto, editaram o livro “Poesia Pois é Poesia” do Décio Pignatari. O Décio era o mais velho. O caçula da turma, Augusto não queria ter o constrangimento de impor seu livro. Negociou o livro do Décio em troca da segunda edição da Teoria da Poesia Concreta, em que a Duas Cidades estava interessada. Imagina que os volumes venderam o suficiente para pagar a edição, mas, para nós isso não tinha maior significação pecuniária, dez por cento sobre preço de capa. As coisas foram surgindo muito lenta e esporadicamente. Lancei em 68, pela Editora Perspectiva, O Balanço da Bossa e então foram surgindo assim, timidamente, as primeiras edições.  O que mais tardou foi propriamente a poesia- foi com ela que mais tiveram de lutar para conseguir espaço. Persistiram sempre: jovens, confiavam no que estavam fazendo. Cita, brincando, Sousândrade, que escrevera em 1877: Ouvi dizer já por duas vezes que o “Guesa errante” será lido cinqüenta anos depois; entristeci — decepção de quem escreve cinqüenta anos antes.

 

 


[1] Trecho de entrevista cedida a Ana Lúcia Vasconcelos em 1986.

[2] O Centro Cultural do Instituto Moreira Salles no Rio de Janeiro apresentou de 25 de agosto a 24 de outubro de 2010, a exposição Erthos Albino de Souza. Poesia: do dáctilo ao dígito, com curadoria de Augusto de Campos e André Vallias. A gravação (áudio apenas) da mesa-redonda está disponível em: http://ims.uol.com.br/Radio/D489

 

 

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BIBLIOGRAFIA
Entrevista e relatos de Augusto de Campos concedidos a Oto Dias Becker Reifschneider.

Relato de Luis Fernando Panelli Cesar enviado a Oto Dias Becker Reifschneider por e-mail a 26 de fevereiro de 2011.

Relatos de Vanderley Mendonça enviados a Oto Dias Becker Reifschneider por e-mail a 1º. e 2 de fevereiro de 2011.

Página oficial de Augusto de Campos http://www2.uol.com.br/augustodecampos/

Julio Plaza: verbete. Enciclopédia Itaú Cultural. http://www.cibercultura.org.br/tikiwiki/tiki-index.php?page=Julio+Plaza

Augusto de Campos: “a poesia que faço é a do artesão” entrevista concedida a Ana Lúcia Vasconcelos, postada a 7/5/2006. http://www.cronopios.com.br/site/poesia.asp?id=1320

Rudolf Koch http://www.klingspor-museum.de/KlingsporKuenstler/Schriftdesigner/Koch/RudolfKoch.pdf

Moysés Baumstein, uma breve biografia http://www.videcom.com.br/index.php?opc=meio_empresa&t=2

Augusto de Campos: “a poesia que faço é a do artesão” (entrevista a Ana Lúcia Vasconcelos) http://www.saldaterraluzdomundo.net/Literatura_entrev_augusto.htm

 

 

[Artigo publicado na Revista Brasileira / ABL (no. 69)]

 

 

 

 

 

 

 

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Oto Dias Becker Reifschneider (1979) é bacharel em História, mestre em Sociologia e doutor em Ciência da Informação pela Universidade de Brasília. Pesquisa a história do livro no Brasil (bibliofilia, memória editorial, artes gráficas) e mantém o sítio  http://perlocutorio.com/, onde disponibiliza seus textos. A poesia concreta é um dos seus interesses na literatura sendo que entre seus próximos projetos estão: um trabalho sobre Darel como ilustrador e o outro sobre Salvador Monteiro, editor de livros de arte. É editor da revista Biblion – estudos do livro (no prelo) e membro da Associação Brasileira de Bibliófilos. Email- oto_dias@yahoo.com




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