Nota sobre prêmios literários


 

Prêmios não provam nada, literal e literariamente. Também não oferecem garantia definitiva de qualidade, vendas etc. Às vezes ajudam na divulgação do autor ou da obra. Prêmios em dinheiro são muito úteis para escritores, porque escritores também precisam de dinheiro pra sobreviver. A originalidade e a relevância de uma obra (ou de um texto literário) não dependem nem são definidas por prêmios. Prêmios não podem nem devem pautar a crítica; em geral, eles pautam a imprensa e, parcialmente, o mercado.

Quando o escritor é contratado como jurado, os prêmios também se tornam muito úteis como fonte alternativa de renda para quem trabalha com a escrita. Ainda que o júri de um prêmio estabeleça critérios objetivos e rigorosos de avaliação, as escolhas sempre terão altos e incontornáveis níveis de subjetividade. Quem diz o contrário, mente. Por outro lado, é fundamental que os critérios de avaliação sejam transparentes, rigorosos, coerentes, consensuais entre os jurados e que sua decisão seja respeitada.

Jurados de prêmios literários são pessoas e pessoas erram, com ou sem boas intenções. Se num corpo de júri do prêmio literário um membro for trocado, certamente o resultado será diferente. A opinião geral formada por um coletivo de jurados é imprevisível e incontrolável. É impossível evitar a pressão do mercado, das grandes editoras, do cânone, da mídia, do jogo de relações pessoais e de tantos outros fatores em prêmios abertos à votação pública, sem a formação de um corpo de jurados específico para este fim.

A função mais importante de um prêmio literário para o escritor – além da possibilidade de ganhar algum dinheiro, ou ter seu livro publicado – talvez seja o fato de que sua obra tenha passado pelo crivo de leituras críticas, isentas, distanciadas. De algum modo, ainda que parcial e não definitivo, o texto foi avaliado e reconhecido. Escritores jamais devem pensar em prêmios quando escrevem. Escritor escreve, sua vida é a escrita. Parece óbvio, mas nem tanto. Prêmios literários podem causar “síndrome de deslumbramento” e “angústia da rejeição”, ambas deixam sequelas no processo criativo. Recomenda-se que todo escritor participe de um prêmio literário ao menos uma vez na vida.

 

 

 

 

 

 

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Reynaldo Damazio é sociólogo de formação, escreve resenhas e poemas, edita, trabalha como gestor cultural, torce pelo Corinthians e vive lendo ou caminhando por aí. Publicou Horas perplexas (Editora 34) e organizou, com Tarso de Melo, Literatura e cidadania (Dobra), entre outros. E-mail: reynaldo.damazio@gmail.com


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