Vozes & Recortes


 

Prefácio

 

Mister se faz, antes de tudo, dizer do prazer e alegria que senti ao receber o convite de Tere Tavares para escrever o prefácio de “Vozes & Recortes”: a sua segunda obra publicada em prosa. Senti-me, também, muito honrado e, ainda, desafiado. Afinal, é imensa a responsabilidade de quem se presta a falar da obra de alguém, principalmente quando a escrita prima pelo respeito à inteligência do leitor, e possui qualidade literária, como neste caso.

Em meio à euforia provocada pelo convite, assomou-me a mente uma preocupação. Um questionamento: como falar de uma obra escrita por uma pessoa muito amiga, com quem se tem uma relação de mais de década, sem, contudo, parecer parcial? Como despir as palavras da carga emocional que cega um fã ao falar de seus ídolos?

Entretanto, a preocupação logo se desfez ante a certeza de que o próprio leitor poderá se certificar: a qualidade dos textos ao virar as páginas finais de cada conto, e assim, corroborar minhas palavras, dando-lhes robustez e sustentação.

É com a exímia maestria de quem sabe o que faz e emprega em seu labor toda sua capacidade criativa e cognitiva que Tere Tavares nos apresenta mais uma face de sua literatura.

“As coisas muito claras me noturnam” – Manuel de Barros

A escrita refinada e instigante da escritora gaúcha radicada no Paraná se enquadra perfeitamente nas exigências daqueles que compartilham do ponto de vista do poeta cuiabano Manuel de Barros. Não há claridades óbvias nas linhas escritas por Tere Tavares. Tudo é dito e, por sinal, muito bem dito, por meio de uma janela própria, de onde ela espia o mundo, e agora a disponibiliza aos leitores para afinal, com os próprios olhos, desvendarem tudo o que as semi-transparências das cortinas escondem.

Nada há de exagerada obviedade na escrita da Autora, senão a capacidade latente de envolver o leitor com o inegável e já conhecido talento poético que possui e, agora, novamente, empresta à sua prosa.

Tampouco esta obra dita verdades absolutas. Existem nas entrelinhas margens para imaginações, questionamentos, e as “deixas” necessárias para instigar o leitor a pensar. Aliás, essa é uma característica inerente às grandes obras da literatura mundial, como é o caso do clássico “Os miseráveis“ do francês Victor Hugo. E, assim sendo, confirma e consolida o nome de Tere Tavares no rol de autores proeminentes da literatura brasileira contemporânea.

Tere Tavares escreve como quem pinta e, certamente, pinta como quem escreve. Caberá ao leitor a tarefa prazerosa de desvendar as belas imagens vestidas de letras que recheiam cada página deste livro.  Senão vejamos nos seguintes enxertos, destacados dos contos “Aceitação” e “Nada diz mais do que uma folha em branco”:

(…O tempo não se rende aos acontecimentos – não existe o tempo certo, senão a incerteza de tudo. Sabe que há muito por explorar, talvez para destecer.

Senta-te e descansa a tua alegria na minha. Mistura-te ao meu silêncio. Faz de mim o que te falta”. – Aceitação.

“Lembro-me de quando captei os segundos nas proas, quando, sob as tintas, ocultei as coisas relativas e abstraí o inalterável curso da vida, dos olhares, do mar cuja doçura é o mundo e suas normas sombrias, e dobras iluminadas. Quem sabe do seu nome? Não há mais nada, exceto esse pescador enigmático, ainda com ilusões de que há uma recompensa depois da espera, além do princípio obscuro da circularidade”. Nada diz mais do que uma folha em branco.

São frases que, tanto pelo ritmo quanto pela forma de elaboração da linguagem e ainda, pelas belas metáforas empregadas, evidenciam a relação íntima existente entre a prosa e a poesia de Tere Tavares. E assim, fazendo uso da magia que envolve o mundo poético e filosófico, ela consegue chamar e prender a nossa atenção para os temas abordados.

Para iniciar a leitura, sugiro nos despirmos de todo (pré) conceito, e de toda idéia (pré) concebida e de estrutura rígida para, inteiros e maleáveis, mergulharmos no universo de Tere Tavares e desvendar nas águas desse mar os mistérios com os quais ela reveste Vozes & Recortes.

 

Boa leitura!

 

 

 

 

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José Maria Alves Nunes é poeta e jornalista. Brasília – DF, fevereiro de 2015

 




Comentários (1 comentário)

  1. Tere Tavares, Honrada e agradecida pela publicação caro amigo e escritor Edson Cruz. Um grande abraço desta que admira tua poesia e teu trabalho.
    23 fevereiro, 2016 as 21:29

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