Viva Leminski!


 

Quem disse que poesia não dá ibope, não vende? A tese sempre é de que este gênero literário é o patinho feio do mercado editorial brasileiro. Ou seja: livros de contos, romances, crônicas e até biografias hão de vender sempre mais do que os livros de poesia. Será? Tenho minhas dúvidas, quando vejo a proliferação de jovens que cultuam o hábito de escrever poemas e de transcrever (antigamente em cadernos escolares e agora em redes sociais) versos que consideram importantes para registrar o momento em que vivem. Costumo dizer que o que falta a poesia é divulgação e mais valorização por parte das editoras, principalmente atingindo o público jovem, geralmente mais propenso a deixar-se seduzir pela magia poética.

Um exemplo desta realidade de que falo acima está no livro “Toda Poesia”, que reúne a obra de Paulo Leminski. Lançado pela editora Companhia das Letras, a obra ficou várias semanas na lista dos mais vendidos, superando até best-sellers como “50 tons de cinza”.

“Toda Poesia” é um livro obrigatório para quem gosta de poesia. E, claro, para quem quer entender o universo múltiplo e surpreendente da produção leminskiana. O poeta do Paraná transitou por todas as vertentes literárias, incluindo nossas vanguardas, como o Concretismo e a poesia marginal. Mas tinha um jeito todo seu de fazer poesia. Tinha estilo, coisa que falta a muitos poetas epigônicos que lemos por ai. Não é à toa, que era aplaudido por nomes como Augusto de Campos e também por Caetano Veloso.

Morto em 1989, Leminski parece cada dia mais vivo no imaginário poético brasileiro. Era poeta dos versos curtos, diretos, como se fossem peças publicitárias. Mas era poeta denso também, com versos que provocavam a reflexão dos leitores, como em “Dor elegante”:

 

Um homem com uma dor

É muito mais elegante

Caminha assim de lado

Com se chegando atrasado

Chegasse mais adiante

 

Carrega o peso da dor

Como se portasse medalhas

Uma coroa, um milhão de dólares

Ou coisa que os valha

 

Ópios, édens, analgésicos

Não me toquem nesse dor

Ela é tudo o que me sobra

Sofrer vai ser a minha última obra.

 

É porque Leminski no fundo, bem lá no fundo, gostaria de resolver nossos problemas por decreto, como afirma em um poema. “Toda Poesia” reúne também ensaios de Caetano Veloso sobre “Caprichos & Relaxos”, de 1983, de Haroldo de Campos, de Wilson Bueno e de Leyla Perrone-Moisés. Luiz Schwarcz costuma chamar Leminski de vulcão. É, ele acordou, post-mortem, o vulcão adormecido do gosto pela poesia no brasileiro.

 

 

 

 

 

 

Linaldo Guedes é jornalista e poeta. Nascido em Cajazeiras, é radicado em João Pessoa desde 1979. Como jornalista, atuou nos principais órgãos de comunicação e foi editor do suplemento literário Correio das Artes por seis anos. Como poeta, lançou os livros “Os zumbis também escutam blues e outros poemas”, “Intervalo Lírico” e “Metáforas para um duelo no Sertão”. E-mail: linaldo.guedes@gmail.com

 




Comentários (2 comentários)

  1. Maria Lindgren, Olha, minha gente, eu nem gostava tanto assim do Paulo Leminski, mas tenho que admitir: deve ser ótimo para vender tanto. Não era um exibido, como não o é sua mulher que conheci através do site Cronópios, no Mnemozine, no tempo do Edson. Maria Lindgren
    23 setembro, 2013 as 14:17
  2. Maria Lindgren, “Não me toquem nessa dor/ …Sofrer vai ser minha última obra é o que a gente sente quando tem uma grande dor, como a que sinto agora. E física. Parabéns, Leminski!!!!! ET a mulher de Leminski que conheci é a famosa Alice Ruiz Maria Lindgren
    23 setembro, 2013 as 14:26

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