TEUS PASSOS


 

 

TES  PAS

 

Tes pas, enfants de mon silence,

Saintement, lentement placés,

Vers le lit de ma vigilance

Procèdent muets et glacés.

 

Personne pure, ombre divine,

Qu’ils sont doux, tes pas retenus !

Dieux !… tous les dons que je devine

Viennent à moi sur ces pieds nus !

 

Si, de tes lèvres avancées,

Tu prépares pour l’apaiser,

A l’habitant de mes pensées

La nourriture d’un baiser,

 

Ne hâte pas cet acte tendre,

Douceur d’être et de n’être pas,

Car j’ai vécu de vous attendre,

Et mon coeur n’était que vos pas.

 

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TEUS PASSOS

 

Em meu silêncio esses teus passos

Soam-me santos, compassados,

E em meu sentir, sem deixar traços,

Prosseguem calmos e calados.

 

Puro ser, sombra de sons mudos,

Como é suave o teu compasso!

Com que divino dom eu passo

A existir nesses pés desnudos!

 

Se te ocorrer ao meu escasso

Vazio aplacar o desejo

De ocupar o meu oco espaço

Com o alimento do teu beijo,

 

Não antecipes a ventura

De ser e não ser teu ex-passo,

Porque eu vivi essa doçura

De exercer meu ser no teu passo.

 

 

De: CHARMES (1922)

tradução de Augusto de Campos

 

 

 

 

 

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Augusto de Campos nasceu em 1931. É poeta, advogado, tradutor, crítico e publicitário. Estreou em fevereiro de 1949 na Revista de Novíssimos e logo depois publica nas páginas daRevista Brasileira de Poesia, ligada ao clube de Poesia de São Paulo, da geração de 1945. Em 1951 edita por conta própria o livro O Rei Menos o Reino. No ano seguinte funda o Grupo Noigandres, com seu irmão Haroldo e o poeta Décio Pignatari . Participando do lançamento da revista Noigandres, publica no primeiro número os poemas “Ad Augustum per augusta” e o “Sol por natural”. Iniciou em 1953 a série “Poetamenos”, que seria publicada em 1955, no n.2 da revista Noigandres. Começa a publicar seus primeiros artigos teóricos em 1955, já em outubro cunhava para a nova poesia que surgia o termo poesia concreta. Em novembro vê seu “Poetamenos” ser oralizado pelo grupo Ars Nova, ao mesmo tempo que realizou conferência sobre as correspondências estéticas entre as novas artes que surgiam. Em 1956 inicia correspondência com e.e.cummings. Finaliza com Haroldo de Campos a tradução de 17 cantares de Pound e entrega para publicação 10 poemas de e.e.cummings. No final do ano ajuda a organizar a I Exposição Nacional de Arte Concreta, em São Paulo e em fevereiro do ano seguinte no Rio. Publica Noigandres n.3. Em 57 lança, como articulista do Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, textos que seriam base do Plano Piloto para Poesia Concreta, lançado pelo grupo em 1958. Publica nesse ano Noigandres n.4. Em 1959 entra em contato com a poesia de Sousândrade, Em 1906 participa da realização da página Invenção no Correio Paulistano. Publica a tradução de cummings e de Ezra Pound. Publica em invenção estudos sobre Sousândrade. Nos anos 60 transfere sua atenção para a cultura de massa, em especial a música popular, publicando o Balanço da Bossa, em 1968. Em 1995 lançou com seu filho, o músico Cid Campos, o CD “poesia é risco” (Polygram). A performance criada a partir do CD, em parceria com Walter Silveira, já foi apresentada em diversos eventos, no Brasil e no Exterior. Nos últimos anos, Augusto de Campos vem se dedicando à feitura de poemas “verbovocovisuais” em mídia digital. Trabalhando com um computador Macintosh e programas de multimídia, desenvolve poemas novos, bem como releituras de obras anteriores, com recursos de som, animação e interatividade. Em 1996, participa da exposição Utopia como poeta do mês. Atualmente desenvolve um trabalho de poesia utilizando-se da linguagem do computador, exibindo-os via internet. Vive e trabalha em São Paulo.

 

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Paul Valéry (filósofo, poeta, ensaísta e escritor francês), nasceu em Sète, ao sul da França, em 1871, e morreu em Paris, em 1945. O pai era corso, a mãe de origem genovesa. A partir de 1889 começa a publicar seus poemas em revistas, a princípio sob a influência de Baudelaire e logo sob a de Poe e Mallarmé, que iria se tornar para ele o mestre absoluto, “a extrema pureza da fé em matéria de poesia”. No âmbito não-literário, estuda Direito e se interessa pela matemática. Em 1890 corresponde-se com Mallarmé, a quem é apresentado no ano seguinte. Em 1892, em Gênova, ocorre-lhe a grande crise intelectual: aos 21 anos, decide renunciar à poesia e aprofundar seus conhecimentos científicos. Transfere-se para Paris em 1894. Frequenta as “terças-feiras” da casa de Mallarmé e inicia as reflexões que anotará, de madrugada, diariamente, durante 50 anos, e que constituirão os 261 Cahiers, dos quais só divulgará alguns extratos durante a vida. Entre 1895 e 1897, publica, em prosa, Introduction à la Méthode de Léonard da Vinci, La Soirée de Monsieur Teste e La Conquête Allemande. Só voltará ao verso, após 20 anos de abstenção, com La Jeune Parque, poema longo, publicado em 1917. Seguir-se-ão Album de Vers Anciens, em 1920, compendiando os antigos poemas escritos até 1893, e mais dois poemas extensos. Le Cimitière Marin (1920) e Ébauche d’un Serpent (1921). E finalmente Charmes (1922), cerca de uma vintena de poemas, incluindo os dois últimos.

 




Comentários (1 comentário)

  1. Gil Pinheiro, O sempre novo velho mestre no só puríssimo papel. Que dizer? Mais uma augusta tradução.
    29 maio, 2015 as 20:36

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