Soliloquia


 

 

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Soliloquia

A alma tem uma imprecisão no rosto
debruçada meditativa sobre o ocidente,
onde lhe nascem azulinas do ontem,
manhãs em assonâncias de retorno; ao
longe as flores iludem docemente o
engano em teias de luz, coroam-se as
amendoeiras de suaves e brancas rendas;
assim é o primeiro dos prazeres, incauta
discordância em espanto,  o desencontro
com as palavras certas; a alma tem a
voragem do imprevisto, um olvido
preciso de evidências, e há um infinito na
sua pequenez, um pó sereno que a tudo
volta.

 

 

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Transfinitudes

O mundo nasce das mãos, ávidas
irremediavelmente lavrando
pomares em terras de aridez; rasgando
os rios em que se aleitou o sonho,
ainda imprudente na espera, ansioso de
infinitude; tão dócil como um riso breve
em desfiladeiros de oiro cantando as
alvoradas; em perfumes de mirto que
despedem docemente a tarde em searas
de amores desfeitas; o mundo na
salvação do poema infrutuoso de dor
e em fuga, no heroísmo furtivo da vida.

 

 

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Problemata XXX.1

Choram, choram, cítaras lânguidas
ao abandono, há uma tristeza
impronunciável no movimento das
primeiras chuvas; as lágrimas apenas
descansam vítreas, o pesar tão leve
que não sustentam, nos corpos
evoladas de brisa; é o mar que
desbrava silenciosamente pelas
faces em abraços salíferos de prata;
o instante fátuo em que aguardam,
como um areal à mercê aluarada
das marés; e a canção que não cessa,
choram, choram, cítaras solitárias
entre os bramidos de Áquilo e sem
dizer porquê.

 

 

 

 

 

 

 

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Helena Barbagelata nasceu em Lisboa a 6 de Dezembro. É uma artista multidisciplinar, dedicada às artes plásticas, música e letras. Participa em antologias literárias em Portugal, Brasil e Itália, tendo sido laureada em diversos concursos internacionais. E-mail: helena.antunesbarbagelata@gmail.com




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