Sete microcontos eróticos


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SALIVA
Porque ele mordera a orelha dela, a noite lhe virou saliva.

 

NO CINEMA
A mão aprendeu logo o que é uma calcinha molhada.

 

OS MINUTOS
Ouviu os latidos. Foi à janela, correu a cortina – o cachorro empurrando a cadela contra o muro. Então, no sofá, a almofada entre as coxas, ficou mordendo os minutos.

 

FRIO E QUENTE

Frio é o destino da ponte – os pés sempre na água. Quente é o sonho da moradora do 809 – os seios derretendo-se na boca do porteiro.

 

PIZZAS
Foi a língua do entregador de pizzas que a acordou para os sábados.

 

MARIA NA TEMPESTADE

A chuva é a queda dos ventos. E Maria, sozinha, é quem umedece os relâmpagos.

 

AO VIZINHO CASCA-GROSSA

A estrela lhe contou que os ruídos da cama são os estalos do carinho.

 

 

 

 

 

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Rinaldo de Fernandes é contista, romancista, ensaísta e antologista. Publicou os livros de contos O perfume de Roberta (Garamond, 2005) e O professor de piano (7Letras, 2010) e o romance Rita no Pomar (7Letras, 2008 – finalista do Prêmio São Paulo de Literatura e do Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon). Organizou, entre outras, as antologias Contos cruéis (Geração Editorial, 2006) e Capitu mandou flores (Geração Editorial, 2008). E-mail: rinaldofernandes@uol.com.br




Comentários (3 comentários)

  1. Emanuel Cendefeita, A mim me parece que mais valeria estar calado. Era mais erótico. E mais belo. Arrrrgh!
    21 março, 2012 as 18:32
  2. Rinaldo de Fernandes, Sem problemas, Emanuel. E você inteligentemente terminou escrevendo um bom microconto: “Estar calado é mais erótico”. Aliás, é um achado!
    5 abril, 2012 as 22:33
  3. Danuza Lima, Estarrecedor como uma gota a cair na boca seca. Fazes do erótico o inesperado. Parabéns Rinaldo de Fernandes, ganhastes uma leitora!
    14 maio, 2012 as 0:23

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