Poesia do Mundo


 

Abhay K. é poeta e diplomata indiano no Brasil. Nasceu em Bihar, no leste da Índia, e tem uma formação sólida na área de Humanas, que é o que nos interessa. Cursou a Faculdade Kirori Mal College e a Universidade Jawaharlal Nehru. Estudou russo, história e literatura na Universidade Estadual de Moscou, língua nepalesa na Tribhuvan University e US Foreign Policy na Universidade George Washington.

Os poemas de Abhay K. já foram traduzidos para o russo, chinês, nepali, híndi, irlandês, polaco, esloveno, espanhol, turco, português, entre outros idiomas. Seu poema-canção Hino da Terra já foi traduzido para mais de 28 idiomas, foi abraçado pela Unesco e é usado por muitas escolas no mundo.

Seus textos são recheados de história, cultura, poesia filosófica, arte, diplomacia digital, democracia global e memória afetiva.

Abhay K. é autor de A Sedução de Delhi e editor de CAPITALS – uma antologia de poemas em 185 capitais do mundo, ambas obras publicadas pela editora Bloomsbury.

[Editoria da Musa]

 

 

 

Poemas publicados em A Sedução de Delhi

 

Bloco Sul*

Corredores longos,
De poder,
Tetos altos,
Arcos flutuantes,
‘U’ invertido,
bancos antigos
sussurrando
segredos confidenciais.
em oficialês.

* Bloco Sul é o edifício onde funciona o Ministério das Relações Exteriores da Índia.

 

South Block

Long corridors
of power,
ceilings high
soaring arches
inverted ‘U’
antique benches
whisper
classified secrets.
in officialese.

South Block in New Delhi is home to the Ministry of External Affairs and Ministry of Defence of India.

 

***

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Delhi, tal como eu sou

.
Eu sou a cidade das cidades.

Uma cidade de invasores, conquistadores
mercantes, imigrantes –
eles piscam no meu horizonte
aparecendo, desaparecendo
como as palavras escritas
em um palimpsesto.

Eu sou a cidade das ruínas.

Toda-poderosa e forte,
olhe cuidadosamente meus
mausoléus, cemitérios, tumbas
conte-os todos se você puder
quantos estão aqui enterrados
que ontem me reinaram.

Eu sou a cidade de Satya, Shanti e Nyaya*

Minhas ruas carregam esses nomes
mas a Verdade é –
estupradores circulam nas minhas ruas em paz
e minhas mulheres perpetuamente buscam justiça
em mais um de tantos tribunais da cidade.

.
* Satya, Shanti e Nyaya – Verdade, Paz e Justiça.

.

Delhi as I Am

.
I am the city of cities.

A city of invaders, conquerors
merchants, immigrants—
they twinkle on my horizon
as words written on a palimpsest.

I am the city of ruins.

Look carefully at my
mausoleums, cemeteries, tombs
count them all if you can
how many lie buried here
who ruled me once.

I am the city of truth, peace and Justice.

My streets bear these names
yet the truth is rapists roam in peace
in the city and my women seek justice
day after day in the city courts.

.
*Truth (Satya) Peace (Shanti) and Justice (Nyaya) are names of streets in Delhi.

.
***

 

O Pilar de Ferro de Delhi*


Imperadores vieram
e se foram,
todos vangloriosos
de seus reinos.
Eu sozinho sobrevivi
para contar
suas lendas olvidadas.

* Símbolo de conquista de um Sultão do Hindustão.


.

The Iron Pillar Of Delhi*

Emperors arrived
…………….and vanished
all vainglorious
……………during their reigns
I alone survived
……………….to tell
…………………….their forgotten tales.

*Symbol of an emperor’s conquest of Hindustan

 

***

 

O Minarete de Tijolo
(Qutub Minar*)

Flutua
poesia no céu,
voo sem rivais
ou festim;
um brinde ao tempo,
torre de vitória,
um calígrafo feito.

* Qutub Minar é um monumento popular na cidade de Delhi contruído no século XII.

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Qutub Minar

Soaring
poetry in the sky
unrivalled flight
or a feast
a toast to time
a tower of victory
or a calligraphic feat.

.

***

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Poema publicado em CAPITALS

.
Delhi
.
O meu cheiro
A minha nudez
impregna
hordas de seres humanos
da carne de terras distantes.
Barganhadores,
imperadores,
malandros.

Eu
desfilo
nu
lá em cima da montanha.
Abaixo,
Um festim de feras
Possuídas,
intoxicadas.

 

Delhi

My smell,
my nakedness
entices
hordes of human flesh
from faraway lands.
Traders,
emperors,
marauders.

I
pose
nude
up on the hill.
Below,
a feast of eagles—
possessed,
intoxicated.
.

***

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Brasilia

Tra il grado 15 e il 20 grado vi era un seno assai lungo e assai largo que partiva di un punto che formava un lago. (.. mezzo a questi monti di quel seno apparirà qui la terra promessa fluente latte e miele, sarà una ricchezza inconcepibilie. (Dom Bosco, Memorie Biografiche, XVI, 385-394)

.

Brasília é bastante branca
Brasília é terra rubra em manta
Brasília é o diáfano véu sobre a luz que abrilhanta

Brasília é um colar de pérolas que à noite encanta
Brasília é um manjar turco exótico que me levanta
Brasília é uma cobra prestes a devorar sua janta

Brasília é um vilarejo se passando por cidade
Brasília é uma expressão na geometria da felicidade
Brasília é a cidade invisível de Ítalo Calvino em tenra idade

Brasília é uma profecia de um certo Dom
Brasília é um poema inscrito em pedra, e bom
Brasília é a canção de Carlos Drummond

Brasília é o diamante na coroa
Brasília é um avião imenso que não voa
Brasília é uma vila de Amauri submersa à toa

Brasília é a Clarice Lispector sonâmbula sobre a água
Brasília é o açaí na sobremesa negra, árdua
Brasília é a perfeição do tijolo e da argamassa na frágua.

Brasília é um pedaço de torta espacial
Brasília é uma ilha de fantasia num lago irreal
Brasília é uma noite dominicana frugal

Brasília é a última utopia
Brasília é para a Sylvia Plath uma distopia
Brasília é uma paisagem de ectopia

Brasília é um oásis de pássaros migratórios
Brasília é o oráculo de vocábulos premonitórios
Brasília é uma página de um livro obrigatório

Brasília é uma miragem instável no deserto
Brasília é uma visão pálida de um ponto incerto
Brasília é um portal que ainda será aberto.
.

(Traduções: Ana Paula Arendt).

 

 

Brasilia

‘Between parallels 15 and 20,
around a lake which shall be formed;
A great civilization will thrive,
and that will be the Promised Land.’
— Don Bosco

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Brasilia is mostly white
Brasilia is red laterite
Brasilia is diaphanous gossamer filled with light

Brasilia is a string of shining pearls at night
Brasilia is an exotic Turkish delight
Brasilia is a coiled serpent ready to bite

Brasilia is a village passing as a city
Brasilia is an expression in supernatural geometry
Brasilia is Italo Calvino’s invisible city

Brasilia is a prophecy of Don (Bosco)
Brasilia is a poem carved in stone
Brasilia is a song of Carlos Drummond (de Andrade)

Brasilia is a diamond in the crown
Brasilia is a giant airplane on the ground
Brasilia is an Amauri village drowned

Brasilia is Clarice Lispector sleep-walking on water
Brasilia is black Acai palm dissert
Brasilia is perfection in brick and mortar

Brasilia is a piece of space cake
Brasilia is a fantasy island in the lake
Brasilia is a Dominican night shake

Brasilia is the last utopia
Brasilia is Sylvia Plath’s dystopia
Brasilia is a landscape ectopia

Brasilia is an oasis of migratory birds
Brasilia is an oracle’s prophetic words
Brasilia is a page from Harry Potter

Brasilia is a shifting mirage in the desert
Brasilia is a vision gone pale, blurred
Brasilia is a nail yet to be hammered.

 

 

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Confira entrevista com Abhay K.

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O Hino da Terra
por Abhay K

O nosso oásis cósmico, a pérola cósmica azul
O planeta mais bonito do universo
O nosso oásis cósmico, a pérola cósmica azul
Todos os continentes e oceanos do mundo
Juntos flora e fauna juntos espécies tudo
Preto, castanho, branco, cores diferentes
Somos humanos, a terra é o nosso lar

O nosso oásis cósmico, a pérola cósmica azul
O planeta mais bonito do universo
Todos os povos e todas as nações do mundo
Todos por um, um por todos
Juntos desenrolamos a bandeira azul
preto, castanho, branco, cores diferentes
Somos humanos, a terra é o nosso lar.

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