PIG BROTHER


 

Poema narrativo, dividido em 7 partes e 66 cantos: esta seria uma forma correta, porém soft demais, para sintetizar Pig Brother. O mais acertado seria descrevê-lo como uma epopeia trash metal, dividida em 7 círculos infernais e 66 episódios dantescos.

O que se apresenta neste poema é um cenário brutal, sem sentido e sem saída. Um mundo para o qual os deuses simplesmente viraram as costas, cansados de verem seus avisos sucessivamente ignorados.

As ruas e o interior dos edifícios estão mergulhados no caos. A violência é desmedida. O cinismo, a angústia e o desespero são a tônica do inferno descrito com uma profusão de imagens aterradoras, que se aproximam mais do ritmo do cinema do que da contemplação da pintura.

Verdadeiras entidades xamânicas, barra-pesadas, os personagens tocam o terror, sem piedade e sem ética, no que sobrou dos escombros do sagrado. É como se deixassem um último aviso pendurado na porta de entrada: é isso mesmo o que vocês querem?

Pois então saibam que o Irmão Porco tomou conta do pedaço, as colunas que sustentam o mundo estão prestes a desabar e as saídas de emergência se encontram lacradas.

A ISSO PODEMOS CHAMAR DE TERRA DEVASTADA.

 

[Orelha do livro PIG BROTHER]

 

***

.

Alguns poemas do livro:

,

AS RUAS ESTÃO ESTRANHAS ESTA NOITE

.
Pétalas destroçadas tingem a noite de vermelho.
Mister Morfina se arrasta pelas ruas,
os bolsos cheios de câmaras de ar furadas,
tranqueiras e cacos de vidro.
Peixes coloridos saltam sob a luz dos semáforos.
Uma Rosa cospe um blues na poça das sarjetas.
Um Opala caindo aos pedaços
bate de frente
no Monumento aos Desesperados Anônimos.

.
O vidro do aquário se estilhaça.
Os peixes fogem montados em motocicletas envenenadas.
Orelhões suicidas gritam palavras obscenas
para velhinhas traficantes.
Mister Morfina acende um cigarro
e observa a palidez de 50 top models
que desfilam descalças
na passarela cheia de cacos de vidro.
Deus está solto.
E dizem que Ele está armado.

 

**

.
A ESPESSURA DO OLHAR

.
A íris de cristal líquido, negro,
reflete sombras ao redor do fogo,
sobras de uma noite longínqua,
restos de fogueira, apartamentos abandonados,
sirenes que não cessam,
helicópteros abatidos por aviões caça-fantasmas.
.
Um arrepio tenebroso eriça os pelos do braço
da ambulante boliviana.
Caixas eletrônicos insultam passantes,
berrando versos de um poeta desacreditado.
.
“Eu vejo através da linguagem. Sem a linguagem,
estou cega” — balbucia a vidente mexicana,
entre ruínas de vozes, falas dispersas,
algaravia nas vielas,
palavras que não chegam a lugar algum.
.
Os Cães de Santo Humberto ladram com ferocidade.
O Trapaceiro Divino procura iluminuras antigas
no Livro de Areia,
orgia de signos, alquimia verbal,
transes migratórios
e paisagens lisérgicas.
.
Os sentidos se dissolvem
ante a multiplicidade das imagens
refletidas nas paredes espelhadas..
.

Olhos se fecham. Lábios se abrem
para o Beijo da Morte.

.

**
.

O INFERNO REVISITADO

.
Baforadas de crack embranquecem a Noite Negrume.
Crianças pipam pedras coloridas
e conversam com as Gárgulas do Teatro Municipal.
Mister Morfina arranha paredes com as próprias unhas
em um moquifo da cracolândia.
Olhos pétreos, veias azuladas & tendões de titânio.
.
A Lua Cadela veste roupas de plástico transparente
nas noites de sexta-feira.
Mulheres gordas — chapéu com flores
de arame farpado
na cabeça — falam sozinhas
e arrastam poodles mortos pela coleira.
Vozes saídas de smartphones
insultam pedintes nas sarjetas da rua Aurora.
.
Carros negros (vidros fumê, janelas fechadas)
partem em cortejo das ruínas da Sala São Paulo.
Uivos de pneus na madrugada fúnebre.
.
O gerente de marketing da Federação Nacional dos Bancos
observa a legião de zumbis
derrubados em colchões encardidos,
enquanto recebe um boquete da Fada de Dentes Pontiagudos.
.
Boatos se espalham pelos cortiços do centro da cidade.
Febre & tremor de músculos.
.
Dizem que Deus está chegando.

 

 

Confira mais informações no site da Editora Patuá.

 

 

.




Comente o texto


*

Comente tambm via Facebook