Ondas vagas


[Hokusai, Katsushika The Wave, C.1830 , New York, Metropolitan Museum]

 

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Baseado no quadro “A Grande Onda de Kanagawa”, de Hokusai
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Eu, um pobre pescador, saí para pescar no mar. O tempo estava bom, propício, com pouco vento e águas calmas. Remei até chegar ao lugar que sabia ter peixe. Antes de começar a pescar, o mar encheu-se de tamanho, uma grande onda apareceu acima do céu. Ajoelhei no fundo do barco e rezei, esperando pelo fim. A onda não me jogou na água, fui levado à terra, mas perdi minha rede e meus arpões. A partir de agora, só sairei para esperar, com papel e tinta. Não sou mais um pescador, sou aquele que descreverá a grandiosidade, de Deus.

 

***

 

Nunca fui uma criança organizada. Era daquelas que fazia a lição de casa de madrugada, antes de dormir. Por causa isso, sempre levantava atrasado. De tanto fazer o dever já deitado, fiquei atento a qualquer som, a qualquer barulho vindo do quarto de minha mãe, pois sabia que, se ela descobrisse, ficaria muito brava, e com razão. Eu me apavorava quando ouvia o som do choque de seus pés no chão e os passos rápidos em direção a mim. Tentava esconder rapidamente os livros, o caderno e fingia estar dormindo. Nunca dava certo. Se ouço alguém andando em direção ao meu quarto com passos pesados, olho para a cama para ver se há algo que possa me denunciar. Não encontro nada, apenas educação.

 

***

 

Você é uma janela aberta em um dia sem nuvens.

Inundado de você, transbordo.

 

 

 

 

 

 

 

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Rafael F. Carvalho é paulistano, nascido em 27 de Fevereiro de 1978. Foi publicado em antologias de novos escritores e em jornais universitários, e é formado em Letras pela Universidade de São Paulo. Os textos acima fazem parte de seu livro A Estante Deslocada, lançado pela Editora Patuá. E-mail: rafercar@yahoo.com




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