NA LATA


 

A poesia de Frederico Barbosa nasce de dois círculos mágicos que marcaram sua infância: o primeiro, traçado na areia da praia de Boa Viagem, para delimitar seu território de folguedos: “Dentro do círculo na areia / que meu pai desenhava, / eu ficava alegre, obediente / Naquela prisão mental cercado de sol e vento”. O segundo, no interior da biblioteca paterna: .“Certa doença me isolou na biblioteca do meu pai. / Lá não havia círculo, nem areia, nem sol / nem arrecife protetor, nem estrela do mar”. Mas havia a magia dos livros. O primeiro círculo foi perdido. Em razão das andanças familiares, o menino foi “transplantado” do norte ao sul do país, “de uma língua a outra, de um país a outro”. Do segundo, ele nunca mais saiu.

A vivência da praia produzirá, mais tarde, o poeta da sensualidade (“Todos os sentidos”), do erotismo (“Da pele e outros órgãos”). A convivência com os livros, o poeta culto que faz poesia de suas leituras, prolongando as lições de seus mestres. E estes são poetas de rigor e contenção, que lhe ensinaram o respeito à palavra exata e a rejeição do derramamento metafórico.

Educado pelo sol e pelos livros, ao longo da vida o poeta alargou consideravelmente seus círculos, onde surgem também poemas marcados pela preocupação social e política e as experiências de nossos tempos difíceis: “chegamos à nova era e ela já era”. O menino da praia se enreda então em “labirintos dificultosos”: “pressão de ser presa nessa pressa depressão”. Nas palavras deste poeta cabem muitas coisas belas e intensas. Vale a pena percorrer seus círculos.

 

Leyla Perrone-Moisés

 

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UM LANÇAMENTO INCOMUM

Para marcar o lançamento do livro Na Lata – Poesia Reunida (1978 – 2013), de Frederico Barbosa, da Editora Iluminuras, está programado um lançamento bem diferente. Enquanto  o autor autografa seu livro, no charmoso Café da Casa das Rosas, acontecem diversas atividades artísticas ligadas à obra. Uma exposição de camisetas da PHD. com obras de nove artistas a partir de três poemas do livro, apresentações musicais de parceiros do autor, representações teatrais e leituras dos poemas do livro por poetas e artistas convidados. Tudo isso perfazendo quatro horas de programação, das 18 às 22h. Todos que adquirirem o livro podem subir ao palco para ler o poema que escolherem da obra, com o luxuoso acompanhamento musical do Grupo Araticum, que toca nos Saraokês apresentados por Frederico Barbosa.

Até o momento estão confirmadas as seguintes participações:
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Música

  1. Anand Rao
  2. Elisa Gatti
  3. Grupo Araticum
  4. Irineu  de Palmira
  5. Malungo
  6. Marcelo Ferretti
  7. Reynaldo Bessa
  8. Tobias Luz
  9. Vanessa Bumagny

 

Teatro

  1. Alexandre de Angeli
  2. Bárbara Riethe
  3. Cia. da Palavra – Direção de Helder Mariani
  4. Letícia Tomazella

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Leituras

  1. Abreu Paxe
  2. Álvaro Alves de Faria
  3. Carlos Felipe Moisés
  4. Chiu Yi Chih
  5. Claudio Daniel
  6. Clenir Belezi de Oliveira
  7. Daniel Minchoni
  8. Dirceu Rodrigues
  9. Edson Bueno de Camargo
  10. Eduardo Lacerda
  11. Fernanda de Almeida Prado
  12. Francesca Cricelli
  13. Hamilton Faria
  14. Juliana Bernardo
  15. Lilian Aquino
  16. Luiz Alberto Machado Cabral
  17. Luiz Roberto Guedes
  18. Marcelino Freire
  19. Marcelo Tápia
  20. Marco Pezão
  21. Natalia Barros
  22. Paulo César de Carvalho
  23. Raquel Naveira
  24. Renata Pallottini
  25. Reynaldo Damazio
  26. Roberto Bicelli
  27. Rubens Jardim
  28. Sérgio Vaz
  29. Susanna Busato
  30. Tatiana Fraga

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Artes Visuais

  1. Adriana Füchter
  2. Carlos Alkmin
  3. Emerson Moino Martins
  4. João Bertholini
  5. Joaquim Araujo
  6. Leka Mendes
  7. Leonardo Mathias
  8. Rafael Cooke
  9. Vera Pamplona

 

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O LIVRO

Na Lata
Poesia Reunida
1978 – 2013
14×21 | 368 páginas
ISBN: 978-85-7321-407-9

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O livro Na Lata reúne os poemas escritos entre 1978 e 2013 por Frederico Barbosa, um dos poetas brasileiros mais atuantes das últimas décadas. Traduzindo a tendência à fragmentação e à dispersão da cultura contemporânea, esta obra foi publicada originalmente em veículos diversos: livros, jornais, revistas, sites, blogs, e redes sociais. Assim, o livro Na Lata – Poesia Reunida torna possível ao público leitor encontrar pela primeira vez em um só volume toda a produção do poeta, espalhada, ao longo destes trinta e cinco anos, em tantos meios e locais diferentes.

Considerado por Haroldo de Campos um “poeta dos mais expressivos de sua geração, pelo sentido construtivo e gume crítico de seus poemas” e colocado por Antonio Candido “entre os verdadeiros poetas da sua geração”, Frederico Barbosa não organizou sua poesia completa da maneira tradicional, dividindo-a de acordo com os livros em que primeiro apareceram, respeitando a sua cronologia. O poeta levou em consideração que muitos dos seus poemas jamais apareceram em quaisquer dos seus oito livros, o que tornaria difícil encaixá-los em organização que tomasse como base os livros anteriores. Assim, misturou-os todos e os dividiu em blocos temáticos, procurando jogar uma nova luz sobre cada poema individual.

Informa-nos o poeta na sua apresentação do livro: “Anula-se, assim, qualquer perspectiva de progressão temporal e é ressaltado o diálogo entre os diversos poemas, mesmo se escritos com um lapso de mais de trinta anos. Acrescente-se que muitos dos poemas passaram por retoques ou revisões completas e, assim, justifica-se plenamente a frase com que abro esta apresentação: este é um livro inédito. Os poemas podem ser antigos, mas o livro é novo e sua organização será novidade até mesmo para os raros leitores que já conhecem todos os livros anteriores.” A ambiguidade do título, Na Lata, traduz tanto o método de organização do livro: misturando tudo “na lata” e depois separando os poemas de forma diferente, quanto o conceito que Frederico Barbosa tem divulgado nos últimos anos, de que poesia é a palavra-impacto, é uma composição construtora de efeitos. É a linguagem organizada da forma mais meticulosa possível para fazer sentir, pensar, ser. Ou seja: dizer “na lata”, “sem papas na língua”, e tentar acertar os alvos, as metas, mesmo que inatingíveis. “Nas palavras deste poeta cabem muitas coisas belas e intensas. Vale a pena percorrer seus círculos.” Assim encerra sua apresentação de Na Lata a grande crítica Leyla Perrone-Moisés. Já o professor de Yale, Kenneth David Jackson, considera que “Na Lata revigora a poesia paulistana com desvario, sátira, concisão e invenção — com sentidos em rotação.” Segundo a professora Susanna Busato, “Em nove partes o livro se desdobra. Cada uma delas se quer unida por um tema. Mas inútil esse esforço por dividir as rotas de nossa leitura, pois elas se entrelaçam. Nossos “aquis” estão em muitos “alis”, em seu livro. A sequência dos poemas vai construindo uma coerência interna ao livro. Uma arquitetura gráfica que se inscreve em cenas e dilemas. Poesia sem solução. Ironia que adensa a escritura como possibilidade de abismar-se a cada página.” Círculos, rotação, abismo. Qualquer que seja a metáfora, a marca é a de uma poesia viva, que faz sentir e ser: Na Lata.

 

 

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O AUTOR

Frederico Barbosa é professor de literatura, organizador de oficinas de criação poética e crítica literária, performer de poesia e gestor cultural, publicou oito livros de poesia como Nada Feito Nada (1993, Prêmio Jabuti), Brasibraseiro, em parceria com Antonio Risério (2004, Prêmio Jabuti), e SigniCidade (2009), além de diversas antologias e obras didáticas. Por esta casa, lançou Rarefato, em 1990 e Contracorrente, em 2000. Foi curador da primeira biblioteca temática de poesia do país, a Alceu Amoroso Lima, em São Paulo. É Diretor da Casa das Rosas desde a sua reinauguração como Espaço Haroldo de Campos de Poesia e Literatura em 2004.  Fundou e, entre 2008 e 2010, foi diretor executivo da Poiesis – Organização Social de Cultura, que, durante a sua gestão, administrou a própria Casa das Rosas e o Museu da Língua Portuguesa, reformou e reestruturou a Casa Guilherme de Almeida, instalou a Biblioteca de São Paulo no Carandiru e iniciou a recuperação das Oficinas Culturais do Estado de São Paulo. É colunista da Rádio Estadão com o quadro Poesia Viva e, a partir de 2012.




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