Na fúria do Rio Juquiá


 

Foi no início dos anos 80, quando colaborava com a revista 4 Rodas e propus a matéria sobre a novidade da época: paulistanos que faziam caiaques próprios para descer corredeiras.

Fui apresentada ao grupo de canoagem na Represa Guarapiranga, remei um pouco e aceitei o desafio de descer o Rio Juquiá, em São Paulo, no outro final de semana. Coisas que alguém com 28 anos nem pensa, só diz: – Vou!

Na chegada ao rio, havia chovido muito e a correnteza estava forte, para minha incompetência com o novo esporte, furiosa. As instruções, caso não conseguisse dominar o remo e virasse o barco, era para manter as pernas esticadas para abandonar o caiaque. Não deu outra, passei uma corredeira leve e pensei, esse é meu esporte. Mal saímos desta pequena corredeira e já havia outra, pesada, meu remo foi para um lado, o barco virou para o outro e só vi uma corda sendo jogada em minha direção para me tirar daquele turbilhão. Ufa!, que medo de me afogar. Engoli muita água. Mas não bastou.

Confiando nos exímios remadores que falaram que eu tinha passado o pior, voltei para o caiaque e não percebi quando disseram para ir para margem esquerda. Fui para a direita e parei. Sorte, pois adiante havia uma cachoeira. Resultado, um dos fortões amarrou meu barco no dele, pediu para eu ir agarrada em sua cintura e remou forte “contra a maré” até chegarmos à margem esquerda. Foi muuuita adrenalina para uma tarde só.

A matéria ficou ótima, a repórter quase sucumbiu. Aquela experiência era para iniciados e não iniciantes como eu. Só depois percebi. Definitivamente, nunca mais encarei uma corredeira. Para não mentir, no ano passado fui para Brotas e ia fazer boia cross, quando a atendente da agência me alertou: – Choveu muito e o rio está forte, você tem certeza que quer viver fortes emoções, ou prefere ir no bote?

Fui no bote, com um remador profissional e a descida foi tranquila, com colete salva-vidas e capacete, equipamentos que não usei na minha primeira e última tentativa de dominar as corredeiras do Rio Juquiá, que até hoje ficou gravado em minha memória como uma íntima recomendação, do tipo “não repita, decididamente esse não é seu esporte.”

 

 

 

 

 

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Marina Bueno Cardoso é jornalista, trabalhou na imprensa em SP e na área de Comunicação Corporativa. Autora do livro Petit-Fours na Cracolândia, Editora Patuá. Publica crônicas quinzenalmente no São Paulo São que são replicadas no site literário www.musarara.com.br. Email: marinacardoso@uol.com.br




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