Lançamento



Professor de Departamento de Letras da UFSCar, onde atua na graduação e no mestrado, Wilson trabalhou na tradução de Pele e Osso, de Luis Gusmán, foi finalista do Prêmio Jabuti 2010, na categoria Melhor tradução literária espanhol-português. Como resenhista, atualmente colabora com O Estado de S. Paulo, O GloboEl Universal (México) e Los inútiles (de siempre) (Argentina). Wilson publicou os livros Histórias Zoófilas e Outras Atrocidades (EDUFSCar / Oitava Rima, 2013) e Vertigens (Iluminuras). Em entrevista para o Livre Opinião, o autor conversou sobre O Pau do Brasil.

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Trecho do livro:

Sobre o livro (do site da Editora Urutau)


O Poeta Wilson Alves Bezerra, na sucessão das horas, na sala onde os pêndulos do Poder se instalaram, vai-nos revelando o discurso ridículo de falantes com seu gangue de traidores. Ele convoca através do dom da palavra a História com seus pavores. Ao longo da obra há pensamentos que fazem estremecer estátuas, bússolas humanas, que há muito perderam a forja. O seu perfil descobre selvagens hipnotizados pelos flashes do Poder que regressaram à loucura dos revólveres da web.

Todos os passos atravessam “ismos” em textos da melhor ironia: explodem meninos “onde aviões só caem por acidente ou vontade divina.” Com vísceras, sangue e horrores “sua terra não tem livros, mas tem círios, não tem leitores, mas senhores.” Convenhamos, o país anda cheio de turistas com tendência para truques delatores.

Temerocracia: destino ou hipnotismo?Travestismo ou palanquismo? A sombra do “Muso” solta-se da palavra e mede a duração do terror. Diz o Poeta: “Para cantar as vossas crises, trouxe cisnes, trouxe índios, odaliscas e um jarro. Fiquei olhando o conjunto abismado, um defunto sorri plácido, palácio adentro”. O Poeta não tem nada para a febre, mas sim o fulgor das grandes árvores. Vai mostrando, à forma de cineasta, o pavor, os viajantes das trevas, os fumos, a fanfarra das armas, os náufragos da devastação, o pão nosso de cada dia que secou nos lábios da democracia. As caravanas passam entre escravos e palácios de mármore. “Milhares de bocas no cerrado cimentado. Há índios e pretos soterrados sob um sol imenso. Cai o rei de ouros, cai o rei do pó, cai não fica nada.” À hora da dança e do crime os olhos do Poeta procuram o poema vivo entre exilados e tubarões. Os lobos uivam à noite em compasso três por quatro com a cabeça encostada ao melhor palhaço do Circo.

Com suas chagas reabertas, Adília, Hilda e Clarice, atravessam as feridas da vertigem. O Poeta declarará: “Mutilam-nos por trinta segundos e outros trinta em nome da segurança nacional. Apreendem estes pensamentos que temos em poemas, em postagens, em mensagens, mas não os podem deter.”

Quem aqui chega encontra o povo puxado pelos quatro cavaleiros do Apocalipse: Peste, Guerra, Fome e Morte. “Senhor, venha agendar sua morte. Eu acuso. As ruas estão desertas. Eles comeram a piedade. Não renunciarei. Nada nos destruirá.”

Prolongam-se os relógios da Novilíngua no caudal do globo. Três pancadas vivas para abrir a Porta da Casa do Sol nas tábuas insones da História.

Maria Azenha





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