Germes


 

Germe é estágio inicial de algo, acusam os dicionários. Origem de um novo ser. Todo estágio inicial tem como pressuposto ascendência e – assim creem os otimistas – descendência. Este poeta tem lá suas filiações reconhecidas. Não se sente um indivíduo isolado ou excepcional. Presumo que poeta e poema que se prestem não obedecem ao progressismo linear. Se ele poeta se interessa por alguns autores hegemônicos e dominantes em nossa época, compreende que nele coabitam vozes que resistem, aquelas esquecidas na estante e que se desdobram na memória. Em meio a surtos recessivos de uma transgressão profunda. Várias metamorfoses se alastram por toda a parte, e o poema é um conjugado de vozes maliciosas e igualmente propícias à vivência solitária e coletiva. Voz de todos e fala de ninguém. Germe de um rito comum.

Altério Megami

 

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Poemas de GERMES ENTRE DIAS BRANCOS
DE MARCO AQUEIVA

 

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Álcool gel

I

Desde que os germes
árduos se revelem
o álcool gel revolta
ou remove enganos?

O que resta do álcool
nos dedos entranha
ou reinventa as tintas
do jornal ou do vazio?

O germe e o que levo
do tato, qual segredo?
O erro e o que verto
do sangue, mal conheço.

 

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No aço de toda
palavra há germes
condenados à latência:
nada pode ser
excluído ou concluído
que não se transforme.

Escrever só começa

quando o germe se revela

 

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Da metáfora ao germe


O que você quer?
Parafuso em chamas
O que você vê?
Prego em revolução
O que você sente?
Germe que mal se vê
sem achar sua outra forma

 

 




Comentários (1 comentário)

  1. Marco Aqueiva, Edson, querido, nesta sociedade mercantilizada, em que a Poesia filha do casal Sonho e Agonia se vê trancada num frio espelho de um quarto escuro, germes potencializam uma possibilidade de outra coisa. Essencial contar com os poros de uma Musa Rara para permitir a cultura de germes. Valeu, meu amigo! Valei-nos, Musa Rara!!!
    7 março, 2016 as 12:56

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