Galego em português


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Miro Villar (Galícia) é profesor de língua e literatura galegas, poeta, narrador, crítico literário e tradutor em diversas revistas e publicacões periódicas. Faz parte do Batallón Literario da Costa da Morte, do Comité de Redacción da revista Dorna e do Consello Editorial da coleção de poesia “Ablativo Absoluto” de Edicións Xerais de Galicia.

Autor dos livros de poesia Ausencias pretéritas [Espiral Maior, 1992], 42 décimas de febre [Toxosoutos, 1994], Abecedario da desolación [Espiral Maior, 1997; premio Tívoli-Europa 1998], Equinoccio de primavera [Esquío, 1998; finalista do prêmio Tívoli-Europa 1999],  Gameleiros (Xerais, 2002) e As crebas (Espiral Maior, 2011; Premio de poesía Concello de Carral ).

Textos poéticos da sua autoria forão traduzidos ao castelán, português, italiano, francês, alemão, inglês, alemão, russo, albanês e servo-croata no volume Il cammino di Santiago. La giovane poesia d’europa nel 1997 [Melteni, 1998].

Como prosador recebeu nos anos 1985 e 1987 o prêmio de relato curto Modesto R. Figueiredo do Patronato Pedrón de Ouro por Augas de silencio e Verbas cruzadas con Amaranta [Ediciós do Castro, 1987/1988] e a Curuxa Literaria do Museo do Humor de Fene.

Na literatura infantil e juvenil publicou Carlota, a marmota [Xerais, 2000].

Como tradutor, verteu ao galego o ensaio As pegadas de Santiago na cultura de Fisterra de Benjamín Trillo Trillo [Fundación Caixa Galicia, 1999], o poemario Calafrío de Jorge Justo Padrón [Xerais, 2000] e os poemas de Bernardino Graña en Poesía gallega contemporánea [Litoral, 1996].

 

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Tradução de poemas de Miro Villar por João Rasteiro:

 

 

ADÃO DESEJA MORRER NO PARAÍSO DE EVA

 

Na laranja que filtram os teus braços

quando me fazes entrar no teu domínio

nos peros onde desagua o meu desígnio

oculto como o mar e os seus sargaços,

 

nas maçãs do pecado, nos abraços,

anseio ser Adão, sem raciocínio,

no pêssego sugado em condomínio,

desejo até morrer granizo em pedaços.

 

no líquido açucarado que me dás,

que bebo pouco a pouco, com agrado

pois acorda-me o odor de uma begónia,

 

na laranja, nos peros, nas maçãs,

no pêssego e no líquido açucarado

anseio o teu sabor de macedónia.

 

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OS MEUS SAPATOS

 

Aqueles meus sapatos que antigamente

foram lustrosos, húmidos um dia

de tanto andarem sós, sem alegria,

amolecendo bolhas continuamente,

 

aqueles meus sapatos, na aurora

molhados de amargura, da dor mais fria,

e gastos de insana melancolia,

já são sapatos novos agora,

 

deram em recuperar o brilho antigo

ao aquecerem no lume permanente

das mãos pequenas, frágeis, imensas,

 

poderosas no amor, no seu abrigo,

aqueles meus sapatos, de repente,

descobriram as coisas mais intensas.

 

 

NEGAÇÃO DE ULISSES E TESEO

 

Se alguma vez tivesses que aguardar entre fio

e tecidos, não sejas Penélope que tece

e destece os bordados assim que anoitece.

Ulisses não existe, foi verso fugidio.

 

Se alguma vez tivesses que aguardar entre fio

e tecidos, não sejas Ariadna que oferece

sair do labirinto mortal a quem a esquece.

Teseo não existe, só sobra o desafio.

 

Se alguma vez eu tiver de partir como Odiseo

prefiro voltar sempre vencido a Compostela.

Não me importa a derrota se tu me identificas.

 

Se alguma vez eu tiver de marchar como Teseo

não há-de ser Artemisa fluxo do meu Sarela.

Não me importa ser lama se tu me purificas.

 

 

“DIONI”

 

Em cada marinheiro dorme um ser mitológico,

com dois potentes braços que na extremidade

se bifurcam em oito tentáculos ventosos,

e quando no horizonte sopra a voz do perigo

despertam oito braços apegando-se à vida.

 

 

“CHE”

 

No deserto que somos qualquer pescador

é homem que multiplica peixe e pão para os seus,

em completo silêncio reinventa o evangelho

segundo São Mateus. Nunca haverá cronistas

para darem noticia do milagre quotidiano.

 

 

“CAMA de PEDRA”

 

Os astutos olhos águias do marinheiro nunca

leram livros de Stevenson, Melville, London, Verne,

mas os dedos buliram em páginas de tinta

onde estavam escritas as marcas do mar, cofres

ocultos abertos pela chave do aparelho da vida.

 

 

“QUINHÃO”

 

As nuvens da incerteza ferindo como o sol,

sempre sois Ulisses, há sempre uma Penélope

que aguarda com tecidos. E Ítaca está distante

mesmo que fosse apenas uma maré de horas,

e Ítaca está distante mesmo que sempre regresses.

 

 

PONT-AVEN

 

São quinze as casas

e catorze os moinhos.

Mãos de pão de trigo.

 

 

PONT-AVEN (1886-1894)

 

Nada perdura

selvagem e primitivo.

Foge Paul Gauguin.

 

 

PONT-AVEN (2007)

 

Mercado da arte,

Paul Gauguin enche crepes,

rara atmosfera.

 

 

 

 

 

 

 

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João Rasteiro (Coimbra – Portugal, 1965), poeta, ensaísta e tradutor. Traduziu para o português vários poemas de Harold Alvarado Tenorio, Miro Villar, Juan Carlos Garcia Hoyuelos e Juan Armando Rojas Joo. Possui vários poemas publicados em várias revistas e antologias em Portugal, Brasil, Itália, Finlândia, Colômbia, Chile e Espanha e vários traduzidos para o Espanhol, Italiano, Inglês, Francês e Finlandês. Publicou os livros: A Respiração das Vértebras, 2001, No Centro do Arco, 2003, Os Cílios Maternos, 2005, O Búzio de Istambul, 2008, Pedro e Inês ou As madrugadas esculpidas, 2009, Diacrítico, 2010, A Divina Pestilência, 2011, Tríptico da Súplica (Brasil), 2011 e Elegias, 2011. Em 2005 integrou a antologia: “Cânticos da Fronteira/Cánticos de la Frontera (Trilce Ediciones – Salamanca). Em 2007 integrou a antologiaTransnatural”, um projecto multidisciplinar sobre o Jardim Botânico de Coimbra. Em 2008 integrou a antologia e exposição internacional de surrealismo O Reverso do Olhar. Em 2009 integrou a antologia: “Portuguesia: Minas entre os povos da mesma língua – antropologia de uma poética”, organizada pelo poeta brasileiro Wilmar Silva e que engloba poéticas de Portugal, Brasil, Cabo Verde e Guiné-Bissau. Em 2009 integrou o livro de ensaios “O que é a poesia?”, organizado pelo brasileiro Edson Cruz. Em 2010 integrou a antologia Poesia do Mundo VI, resultante dos VI Encontros Internacionais de Poetas de Coimbra organizados pelo Grupo de Estudos Anglo-Americanos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Em 2011 integrou o livro “Três Poetas Portugueses” (Brasil), organizado pelo poeta brasileiro Álvaro Alves de Faria. Em 2009, organizou para a revista ARQUITRAVE da Colômbia, uma antologia de poesia portuguesa, intitulada “A Poesia Portuguesa Hoje”. Mantém o blogue: www.nocentrodoarco.blogspot.com E-mail: rasteiro.j@gmail.com




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