Descortinando a crítica de teatro


 

.
Falta ao título a palavra “teatral”. Adequado seria “A função da crítica teatral”. Deve ser porque encima-o os nomes dos autores: Bárbara Heliodora, Jefferson Del Rios e Sábato Magaldi. Sendo eles grandes referências da crítica de teatro, a tal palavra seria redundante.

O texto de Bárbara é elucidativo. Formulando e respondendo questões como: “Terá o crítico grande poder sobre o leitor de jornal?”; “Como e por que alguém se transforma em crítico?”; “Qual é a função da crítica?”; “Por que ela existe?”. As respostas são claras e tranquilas. Instrutivas para quem pensa em seguir carreira no ramo.

No caso do poder dos críticos que escrevem para grandes veículos, é ilustrativo o que Heliodora nos conta sobre o poder dos críticos de Nova York. Elucida que não é o espectador comum que se baseia na opinião do crítico em periódicos, mas sim as organizações de espectadores que controlam a venda de milhares de entradas. Portanto, quando a opinião do crítico é desfavorável o espetáculo fecha.

Seu maior foco é o teatro de Shakespeare, do qual é a mais profunda estudiosa do país; tomando-o como exemplo mostra o quanto a crítica é fundamental para a descoberta e aprimoramento do método. Pensava-se, até o século XIX, que algumas peças dele (o caso mais clássico é Rei Lear), pela grande quantidade de personagens em cena, eram impossíveis de montar. Um erro de análise; até “quando os críticos, os estudiosos redescobriram a forma do palco e tiveram maiores informações sobre Londres, Stratford e a própria vida inglesa do tempo de Elizabeth I, tudo ficou claro.”.

Fala da importância da crítica teatral de Aristóteles, em detrimento a de seus pares, porque descreve e não prescreve. Assinala que de todas as artes cênicas, o teatro é a que “mais íntimo e produtivo é o diálogo entre criador e crítico.”. Lembra que todo leitor ou espectador é crítico, nem que seja no primeiro patamar do simples “gostei” ou “não gostei”. Esclarece também problemas e enganos da crítica jornalística.

O texto de Jefferson Del Rios segue a proposta de elucidação da função da crítica teatral. Mas é mais histórico é pessoal. Fala de sua carreira de crítico, citando suas referências, e faz um resumo da história de críticos, veículos e teatros do país. Informa que a formação do pensamento crítico no Brasil teve o peso de Machado de Assis que exerceu a crítica teatral.

Seguindo a proposta educativa dos anteriores, o texto de Sábato Magaldi se assemelha com o de Jefferson por trazer um laudo histórico e pessoal; beirando o passional.

Dá exemplo prático do quanto os críticos podem ajudar efetivamente à classe teatral, contando da Comissão Estadual de Teatro, pleito sugerido pela Associação Paulista de Críticos Teatrais ao então governador Jânio Quadros, que “assumiu a tarefa de administrar a dotação financeira e, dispondo de verbas generosas, chegou a conceder até 60% para o custeio de uma montagem.”.

Depois veio a política neoliberal praticada pelo Estado e bagunçou o meio de campo: “O resultado dessa política nefasta é que não se constroem mais teatros e os poucos existentes estão em geral mal ocupados, pois os artistas maduros se cansaram da profissão. E os novos encontram pouca perspectiva de trabalho.”.

Comenta, como Jefferson, a passagem de Machado de Assis pela crítica, salientando antes ser ele nosso principal romancista. Embora eu acredite um romance caber num conto, prefiro creditar o Bruxo do Cosme Velho de nosso principal contista.

Mostra, através de trechos de artigos de Oswald de Andrade, o que é ter ou não vocação de crítico teatral.

Outra importante obra da Giostri para estudiosos e profissionais do teatro.

 

 

.

A função da crítica (2014)

Bárbara Heliodora / Jefferson Del Rios /

Sábato Magaldi

Giostri Editora

 

 

 

 

 

 

.

Cláudio Portella é escritor, poeta, crítico literário e jornalista cultural. Tem 11 livros publicados de diferentes gêneros.

 




Comente o texto


*

Comente tambm via Facebook