Como se tornar um bom escritor


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O jornalista e poeta Linaldo Guedes lançou na Livraria do Luís, o livro “Receitas de como se tornar um bom escritor”. Editada pela Chiado Editora, de Portugal, a obra reúne textos sobre temas diversos que acometem o campo literário, como ampliação do número de leitores de poesia no Brasil, a importância do Concretismo, o papel do leitor diante de uma obra literária, jornalismo literário e a angústia da influência à moda de Harold Bloom, entre outros. O lançamento será às 10h30 e a Livraria do Luís fica na Galeria Augusto dos Anjos, centro de João Pessoa. O livro será vendido a R$ 25,00 e terá distribuição no Brasil, em Portugal e Angola. A apresentação do livro será feita pelo poeta e escritor André Ricardo Aguiar.

“Receitas de como se tornar um bom escritor” também reúne textos sobre autores como Sérgio de Castro Pinto, João Cabral de Melo Neto, Paulo Leminski, Augusto dos Anjos, Vinicius de Moraes, Augusto de Campos, José Lins do Rego, Fernando Pessoa, Ariano Suassuna e Padre Antônio Vieira.

O objetivo da obra é, principalmente, provocar o debate sobre como se faz e se produz a literatura nos tempos de hoje, com o advento de novas tecnologias, a exemplo de blogues, redes virtuais e sites. E, também, de reforçar a importância da leitura de alguns autores da literatura.

Linaldo Guedes é jornalista e poeta. Nascido em Cajazeiras, é radicado em João Pessoa, capital da Paraíba, no Brasil, desde 1979. Como jornalista, atuou nos principais órgãos de comunicação da Paraíba e foi editor do suplemento literário Correio das Artes por seis anos. Atualmente, integra novamente a equipe do Correio das Artes.

Como poeta, lançou os livros “Os zumbis também escutam blues e outros poemas” (A União/Texto Arte Editora, 1998), “Intervalo Lírico” (Editora Dinâmica, 2005) e “Metáforas para um duelo no Sertão” (Editora Patuá, 2012). Lançou, ainda, “Singular e Plural na poesia de Augusto dos Anjos” (Editora A União, 2000) e co-organizou os livros “Diálogos” (entrevistas com escritores brasileiros publicadas no Correio das Artes- Editora Aboio/A União, 2004) e as coletâneas de contos e poesia dos 50 anos do Correio das Artes (Editoras A União e Universitária/UFPB, 1999). Sua produção pode ser acessada pelo site: www.linaldoguedes.com

A Chiado Editora é especializada na publicação de autores portugueses e brasileiros contemporâneos, sendo neste momento a maior editora em Portugal neste segmento, e uma das editoras em maior crescimento no Brasil. Em pouco mais de sete anos de existência, a Chiado Editora revolucionou o mercado do livro em língua portuguesa, editando mais de 1000 novos títulos por ano! Em virtude dos métodos inovadores de produção e distribuição desenvolvidos, todos os livros publicados pela Chiado Editora estão, a todo o momento, disponíveis para todos os Leitores, nas maiores redes livreiras de Portugal e do Brasil.

 

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Abaixo, trechos do livro em primeira mão:

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Receitas para se tornar um escritor

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Receita nº 1:

Publique poemas em algum suplemento literário, aproveitando-se da boa vontade dos seus editores. Depois, lamba a cria dezenas de vezes, lendo e relendo seus versos geniais. É uma receita que não exige muitos sacrifícios. Não precisa, por exemplo, gastar dinheiro e neurônios na publicação de um livro. Pode até ser um escritor inédito, como muitos que adormecem em gavetas e birôs invioláveis. Quem vai se preocupar com esse detalhe bobo? O importante é o que você diz em rodas de amigos. Ou a forma como você se autointitula em matérias veiculadas nos jornais da cidade. Inédito, aqui, não por falta de condições financeiras para bancar um livro. E sim por pura e absoluta ausência de talento – outro detalhe bobo que não é levado em conta pelos amigos da esquina. Por fim, saboreie toda a sua presunção literária e encha a boca com a palavra escritor. Agora você é mais um ungido pelos deuses a figurar no Olimpo literário da província. Só falta plantar uma árvore e fazer um filho para sentir-se realizado. São coisas bem mais difíceis do que ser um escritor. Mas todo sacrifício vale a pena, mesmo para quem nunca leu Fernando Pessoa.

 

Receita nº 2:

Esta é bem mais difícil. Vai depender muito do número de amizades influentes que você consiga ter. Ou, quando não, das reservas financeiras disponíveis em sua conta bancária. Consiste em lançar livros e mais livros. Como se estivesse seguindo à risca as ironias contidas na música de Caetano Veloso no álbum “Livro”. Qualidade aqui importa bem menos do que na primeira receita. Vai valer a quantidade, acima de tudo. O gênero também não importa. Pode ser ensaio, poesia, romance, conto, enfim, todo o arsenal literário ensinado pelos mestres Massaud Moisés ou Alfredo Bosi. O que!?! Você não sabe quem são esses dois? Não fique triste! Eles também não sabem quem é você. E nunca vão saber. Essa receita tem um detalhe: não pode deixar livro esquentando em fogo brando. Há que sempre se ter um original nas gavetas. Para ser lançado até quando o carnaval não chega.

 

Receita nº 3:

Essa é fácil. Tanto que é pule de dez em 80% dos lançamentos feitos pelos nossos maravilhosos escritores. Qualquer um, com um pouco de paciência para a pesquisa, vai tornar-se escritor sem muita força. Basta coletar dados e mais dados. Depois, armazená-los em ordem nem sempre cronológica na memória do computador. Por fim, junte tudo e pronto! Eis mais um escritor! Não se preocupe com a falta de originalidade ou de ineditismo. Ninguém vai reparar que o livro é cheio de recortes de jornais, de artigos já publicados ou de depoimentos que não são inéditos. O que vai importar é o nome que está lá na fachada do livro: A odisséia do bom escritor, de Fulano de Tal. Pois é. Fulano também vai poder arrotar para os amigos sua realização literária. Fulano, agora, é um escritor. Com direito a convites para prefaciar novos escritores, para opinar sobre o momento literário atual, sobre a historiografia e moral suficiente para ser convidado para compor mesas e painéis literários.

 

Receita nº 4:

Criatividade é tudo, nessa receita bem básica, embora pouco praticada em nossos arredores. E cara de pau, também. O pretenso escritor vai ter que forjar concursos e eventos literários para sobressair-se. Não sendo possível, basta jogo de cintura e muito conhecimento junto à imprensa e aos intelectuais da província. Repararam como a imprensa está sempre disposta a aplaudir os novos escritores sem maiores questionamentos? É o caso de ligar para aquele colunista e pedir que ele coloque uma nota: “o escritor Fulano de Tal fará um happening logo mais à noite”. Pronto. Ninguém vai mais duvidar que você é um escritor. A credibilidade do jornalista transforma isso em verdade absoluta. Pelo menos até você conseguir lançar um livro de verdade.

 

Receita nº 5:

Pense numa receita boa da peste! A diferença é que desta feita o prestígio tem que ser conseguido junto à sociedade. Conseguido isso, é meio caminho andado. A outra metade você gasta para conseguir dinheiro das pessoas citadas em seu livro. Nesta categoria, todo e qualquer livro transforma-se em obra literária. Vale de tudo. Catálogo telefônico, agenda social, guia turístico, etc, etc, etc. Às vezes, a província está em baixa e resolve importar emergentes de outras plagas para lançar livros sobre suas memórias e as memórias da cachorrinha também. Como falei, talvez seja a melhor receita. É a que dá mais dinheiro e torna o autor do livro tão intelectual quanto aqueles que passam anos e anos estudando, décadas e décadas lendo, séculos e séculos aprendendo como escrever bem.

 

Receita nº 6:

Esqueçam todas as receitas anteriores. O país já tem escritores demais! Vá ler os clássicos. Descubra quem é James Joyce, Guimarães Rosa, Machado de Assis, Gustave Flaubert, Gilberto Freyre, José Lins do Rego, Homero, Eça de Queiroz e William Shakespeare. São esses, e outros no mesmo nível, quem vão mostrar se você realmente tem capacidade para se julgar um escritor. Fazendo assim, você pode até lançar livros e mais livros. Mas pensará duas vezes antes de afirmar por todos os recantos que é um escritor. Eu sei que esse é o caminho mais difícil. Mas compensa percorrê-lo. Se não virar escritor, pelo menos passará a compreender melhor as coisas da vida. Entenderá, então, porque existem tantos “escritores” neste mundo de meu Deus!

 

 

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[Texto publicado no livro Receitas de como se tornar um bom escritor, de Linaldo Guedes, lançado pela Chiado Editora, de Portugal. A obra pode ser adquirida no site da editora: www.Chiadoeditora.com]

 

 




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