Aguinha e filtro


 

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O GRANDE SERTÃO DE DENTRO

 

Já deslembrava o quanto a vida é perfazendo,

Do quando junta pó vivente virar traste,

– Pervale muito pouco o em baixo desse sol! –

Doido ver o ente em vida, de assim, se morrendo,

Por dentro, não na carnação, mas no regaste.

 

E quem em alma ou coisa tanta seja, crendo,

Nem não em outra vida, num sei lá que arde,

Pós tanto de sonho rejunto, virar pó!?

 

De agora, só, restante o tempo pervalente,

Resguardo meu querer, (só de assim não me abato!)

 

 

 

 

PRAIA DOS ESCOLHO

 

Quando  remirei no mar o tímido escolho,

Desesqueci das tanta escolha minha feita.

Aquelas pedra assim, num sobe desce d’água,

Escória de lembrança dentro desses olho,

Escólio ribeirando os olho, tanta mágoa…

 

Desafastei então das ruga, do meus choro.

Saí daquela ponta de mar – me aperreia! –

As água foi comigo, um sobe desce n’alma…

 

Ni mim tão se avoando, se alargando as asa…

Desacheguei dali, das água que incendeia.

 

Me redormi. As pedra afundou… Maré alta.

 

 

 

O ENRIACHO VIVENTE

 

Por suposto! Vivente é Igualzinho como os rio.

Corrente assim  pelo rebaixo.

Pura abismação!

E tanto quão bate na pedra no curso, fio

D’água clareia no enriacho.

 

Pureza desmovente? Só poço fundo-frio,

Desriacho refundo, embaixo

Da pedra do chão.

 

Dia calha desaguar na vasteza–destino-

Rejunte-das-água-embarrado.

 

Movente afronta o sal, depois se vai c’os navio.

O quanto persiste estagnado,

Poça? Turvação.

 

 

 

AURETO DO MEDO

 

O medo (sei não?) que viceja aí, toda parte?

Medo de tanta coisa  feia!

Medo pelo mundo.

Pelos jornal, tv, rádio, pc , espalhado,

Fincando espantalho – eia!

Se arreceia tudo.

 

É terrorismo, é bandido, é crise, é bolsa.. Arre!

Por tudo  só desconhecença.

Desamor bicudo.

E eu vou ficar mudo?

Não sei que medo é desavença

Plantada, pensada, comprada, vendida? Há de!

 

 

 

AGUINHA DE FILTRO

 

Aguinha de filtro, gostinho de barro, fresca…

Restança ali dum outro mundo.

Não o rebordoso,

Percorrente, sem tino nem tento – Deus esteja!

Tudo luminoso, no prumo,

 

Prédios rebrilhante, desejos de boniteza,

Vistosura, espelho por tudo!

Tudo porvistoso!

 

E não tem oposto?

E pode sem sombra esse mundo?

 

Sei não… por d’embaixo, o rato, a barata viceja.

 

 

 

 

 

 

 

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Tártari Feijó é músico, compositor e arranjador.  Atuou na França e Suíça. No Brasil, tocou por anos na noite paulistana, integrou como baixista e arranjador a orquestra de baile Super Som TA, fez parte do quadro de professores da Universidade Livre de Música de São Paulo, onde foi correpetidor por doze anos. Acompanhou nomes como Rosa Maria, Itamar Assumpção, Neuza Pinheiro, Vicente Barreto, Cauby Peixoto e outros. Finaliza a graduação em Letras na USP, em Grego Antigo e Português. E-mail: homero_feijo@hotmail.com




Comentários (2 comentários)

  1. Petia Botovchenco, Gostei demais. Linguagem densa, sonora, apurada no cadinho do trabalho poético, destilando da inspiração só e exclusivamente a essência poética e expressiva, sem apelo ao sentimentalismo ou ao lirismo barato. Muito bom.
    18 junho, 2012 as 21:22
  2. neuza pinheiro, Além de grande músico, grande poeta. Disse alguém que prosa é marcha; e poesia, dança. A sua é pura música, música lá de longe, das coisas do vento e dos pássaros e das árvores. A alma da gente se renova.
    22 junho, 2012 as 21:21

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