A Vidraceira Laharsista


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As palavras sorvem a luz da fenomenalidade das rotas do estrangeiro que confortam os braços dos destroços da artesania: dizem que são as cortaduras de adaga na dialética das trepadeiras das estações secas sem origem( as OSTRAS dos aforismos enrodilham-se anestesiadas pelas rédeas dos olhares enfermos rodeados de luminárias em jejum e o magnetismo da secura indetermina-se nas vozes furtivas que amontoam em si os ecos inóspitos): dentro dos contrários e da errância estes arcos de pedra absorvem os cultos do fogo percutido sob as atonias dos maçadores-de-fronteiras com ranços de chicotes entrecruzados onde os miasmas dos alquimistas gritam pelas engenheiras noutras direcções das pirâmides escalonadas____sim___as gelosias desferem as feridas dos gerânios com navalhas pisoteadas entre os moscardos esfomeados e desovados nos pulsos obsequiosos da vidraceira que recupera o som do fogo com o seu próprio desnudamento( a palavra tenta percepcionar sua velocidade por meio da labareda enregelada, rompendo babelicamente gorgulhos uivantes)_________vejam as peles-de-vidro do jaguar a cerrarem incrustações falciformes e a esquiarem pântanos dentro de um sol de alheamentos que projectam sombras espeleológicas nas matemáticas usurpadoras de devaneios onde repousam as falanges iniciantes da vidraceira com a paz nas bordas do abismo, com os últimos rasgos-de-terras-baixas( a vida do transe do fogo jamais repousará na dobradura; a dispersão energética faz do espaço verbal a antecipação do exílio onde tudo é negado sob a fecundação dos rumores ): milhares de acarinas tentam mesclar minúsculas sepulturas rentes aos desfiladeiros da luzência intensíssima que ainda vomita as precipitações da vida nos pensadores fora de si mesmos e com ressonâncias uterinas sem saída: aqui a vidraceira rapina a combustão dos homicidas do impensável para transmitir secretamente clareiras inacessíveis e fricções sob as mutações das recolhas genitais da palavra, sob corredores epilépticos flexionados no pousio dos sudários dos corvos que estremecem no indizíveis-movediços dos fogos que colocam as multidões anónimas o mais longe possível para instaurarem a verdadeira cavalgadura da negação, filha desviante do perigo onde acontecem as travessias elipsadas da vida rés às geologias expandidas do poema: obsidianas escapam-se às obscuridades das máscaras de serpentina para pôr em risco toda a escrita da escrita fruto dos astrólogos oxidados pelos fisionomistas sexíficos que incorporaram as germinações obscuras do fogo nas ampulhetas do repouso castigador do lado norte dos propulsores da mercância( sarcástico tubérculo a fracturar horóscopos incuráveis onde os cadáveres plantam espelhos nos unguentos de outras carcaças que latejam enclausuradas nos gemidos das agulhas dos vultos com xadrezes estiolados nos seus testemunhos herdeiros de nocturnos farmacêuticos(vestígios trepidantes rastejam ociosos de ventres viscosos): a vidraceira vagueia com cabeças de reverberações encapuzadas que derivam das cisternas de Prometeu, por isso sente o odor geométrico no fogo necrológico sempre ausente de qualquer conhecimento dos enforcados ,apenas os espôndilos dos círculos concêntricos saltam dos fornos em forma de máscaras de jade onde um baralho de tarot empalha os disfarces das vísceras embainhadas nos unicórnios______ as instabilidades teátricas vazam para devorarem os sentidos do mundo: TUDO-ESCAPA_____( o intermediário do pânico será sempre o enxofre incombustível das chagas afrodisíacas: as falanges da artista se dilatam e se evaporam perante os olhos da sua sombra-feiticeira incorporada permanentemente nos fenómenos ígneos das vigílias dos respiradouros que a fazem retornar ao lar glacial dos cânticos espirituais onde os animais se queimam sem brilho porque levam para dentro de si próprios uma luz-canibal inesgotável)_______ inomináveis círculos de arraia, interiormente tencionados por outra outra negação aberta às verrumas de osso retraçadas entre os ensaios das vizinhanças microfísicas e as ossadas coalhadas dos caçadores de subúrbios esporádicos: estes efeitos improfícuos e estas excepções exíguas de um corpo em transladação povoam os acontecimentos do insuportável, acreditam no resvalamento que os fazem sobressaltar e circundar na cerâmica-réptil da palavra que se esvazia, se mundifica nos talhadores de vestígios para prosseguir, ondulatoriamente até aos batentes dos desenhos do olho newtoniano: aqui as cabeças incontáveis do poema se abismam em queda infinita-cromática e se entregam diferentemente ao corpo das calefacções de efígies, por isso as inversões da penas de Quetzal estão sempre inacabadas num espaço atravessado-estriado sem respostas porque desejam sustentar as luzes das pedras com as ulcerações sem destino onde um eremita se greta no simulacro polifónico________lá vem a artéria da vidraceira a decifrar as vozes restauradoras do alvoroço dos mecenas purgatoriais( os jorros dos epigrafistas transformam os amuletos em êxtases alucinatórios e tudo se abre no avermelhamento da cegueira irrefreada que vê os arcos avernais nas técnicas agrícolas dos moradores de naufrágios): é na visão das serpentes que os poetas fortalecem a incompletude removendo fragmentos abobadados e escadarias mitológicas no grito que se desdobra em todos os rostos dos escribas cosmovisionários, em todas os promontórios narcóticos devoradores de agnições do carbono 14: oh caos coreografado pelas variações dos silêncios das semeaduras, das anomalias feitas de rumores das águas de Urubamba que arremessam os olhares inesperados para fora de si próprios, infiltrando as imanências dos ourives dos portos e das esferas multifacetadas das vidraceiras nos tendões das estepes que traçam as escalas dos lapidadores de cordilheiras com os istmos dos solstícios de inverno: aqui os ctónicos brotam-se no JÁ e abandonam as orações das rosas embaladas pelos dédalos da vidraceira arrancada às reservas do desapego onde os símbolos das traqueias exploram a história de Heráclito sob legendas isoladas entre as paixões geórgicas e os despojos das sinédoques : intervalos ovóides da trepanação desensombram os revezamentos das cavidades do absurdo com a oportuna sombra dos utensílios dos templos solares onde os alvos da palavra sazonada contornam as técnicas metalúrgicas das mulheres celibatárias porque elas circunscrevem o vazio golpeado dos inquisidores para entrevirem rés ao intangível______horror submisso ao horror entre as bigornas rudimentares e os códices dos Astecas em semiânimes genuflexões( trópicos da observância adivinham os despojos lançados aos exploradores de fotografias em despojamento): pasmo no rumo dos pasmos que antecipam o arrasto funéreo das usinas dos monstros onde há a acidentalidade absoluta de golpear, derrubar, dobrar os conceitos-do-não-retorno sob camadas inscritas na interrupção do lançamento de áreas afectivas ou serão bruxuleios cinzelados na perscrutação dos estandartes corpóreos: eis, a exigência de encarnar as superfícies dos escalpelos através das travessias subterrâneas e dos discos auriculares das múmias árcticas que petrificam as manchas do encavalgamento dos olhares ainda hoje perseguidos pelas progenitoras extintas________sim______as curvas das mães mortas esmaltam e expelem os estiletes transformados em incisões rectangulares das dores compulsivamente arquejantes sobre o vómito anacrónico de milhares de profetas: são boomerangues in-visíveis das cascavéis das criptas temerárias que trilham, deformam, articulam e tencionam as dimensões-texturas da fascinação renovadora de olhares opacos repletos de mandíbulas de coiotes e de reentrâncias em desamanho que prosseguem e acuam aquém da possessão da língua_____o tradutor da vidraceira expande-se convulsivamente dentro dos centros dos transes( eis a densidade da deflagração a participar vertiginosamente na imergência da matéria afectiva). O texto das vidraças se revela na tensão abismal e jorra, solavanca, rebenta-se na soberania das transformações dos plexos que esculpiram o já-dito no fulgor da avizinhamento orgiástico que é em si a lonjura-em-jogo-moldável-entre-cor-som-e-ruptura-polissémica onde tudo é coarctado e libertado simultaneamente até à recusa dos tapamentos mais convexos _______a vidraceira embarga-se novamente no vazio invocante destruindo o seu poder de carne conflitiva, porque o seu corpo magicamente fissurado pela convertibilidade das perxinas sente as cartografias das precisões das máscaras de OLMECA para lá de qualquer visão putrescente (infundir os rasgos das caçadas adentro dos olhares compulsórios com todos os centúrias nas margens): a desescrita nomeia-se no inominável de si mesma, esta contraversão opaca faz da tentativa de navegar no centro florestal do poema o informe fantasmático lançado por todas as línguas dos movimentos dos povos, por todas as línguas com ressonâncias estranhamente glamorosas, por todas as acrobacias dos leitores atravessados por plantas alucinógenas, por todos os gumes das espadas presentes nas fendas de todos os basaltos negros( o cinematógrafo dentro do cinema trufaudeanamente atinge o último sangue da gravidade que leva o arbítrio à equação das peçonhas dos pássaros-por-vir) : aqui, o poema-vidro acontece na junção de matrizes das sombras que arietam hipóteses dentro dos reversos das memórias com o fenecimento iconológico onde a embriaguez abismática, nomeia a crueldade intraduzível dos silêncios rés aos ardis anónimos, explorando os infinitos dos instantes com o traçado da obscuridade, do ilimitado, da esfinge e a palavra morre na zona de transição gentílica_________sim______ a volumetria fabuladora do poema se regermina na vesana transmutadora dos sádicos e na incessante fissura das vozes de contrastes medusantes: são trepidações-líquidas a misturarem os itinerários das buglossas antigas dentro de cicatrizes insubordinadas que se elevam no vigor silente do mundo-agressivamente-mumificado-extremado( a derrota da acusação sobre um sobrevivente inabordável, sobre a a fulguração da expectativa do desastre mais dançante): tentar refazer-se na palavra ecoante, desmontável e de transposições instantâneas que assinalam a cegueira, a ampliação dos umbrais sobre a transversão do olhar das rendeiras alteradoras de faces, de dilemas que nos retransformam em sombras fenomenológicas_______sim____zonas policromáticas,sempre desconhecidas, imaginariamente tensionadas e intransponíveis: absorvedores das fragmentações rebatidas a insculpirem os alcances-rupturantes do antro do mundo onde o olhar-feito-visão-indiscernível oscila entre as intersecções do animal-vegetal-humano, aberta à captação do imemorável, da transversalidade do pavor que é palavra estrangulada e que se expande no pavor de outra palavra submergida nos percursos com sinais escavados no meio do olhar que ainda não vemos: eis os corpos clandestinos que se recolheram das ruínas das tumbas e que extraem os estilhaços da visiva à estrangulação dos anteparos labirínticos para se transfigurarem num mosaico de línguas em fracturamento, em pistas assimetricamente entrincheiradas por gestos eléctricos: tudo é encorpadura compacta, tatilmente afectiva entre visões, mostradores de crepitações e deslocamentos revolucionários aspersados por gestações tenebrosamente regeneradas pelos avessos: a voz torna-se impossível, devasta-se no rastro anterior a si própria e afecta loucamente o corpo de outra voz: o poema acontece nesta efracção oscilante que nos afasta e nos aproxima em potência incorporante, mudando o mundo para regressarmos à recusa daquilo que nos olha dentro da nossa própria visão, enquanto intensidade rupturadora que se faz jogo modular da alienação, se faz vida ritmicamente perseguida por todos os espaços anteriores aos poderes heréticos, sempre dobradiças-geográficas insondáveis (a desincorporação das antecâmeras dos olhares é permanente porque somos feitos de interrupções libertadoras de vozes rodopiantes, emancipadoras de metamorfoses carnais,cismáticas, que in-finitizam o nomadismo do cadáver viés ao cadáver jogador de verdades opostas que nos fazem escutar os itinerários indecifráveis, indiscerníveis da vida sob as causas diante do infinito : a palavra em forma de helminto se delonga nos gestos da denegação e se torna verbalizável na dança paradoxal dos gritos-em-eclipse: o poema acontece no corpo instável, no alicerce vertiginoso e é estranhamente, concomitantemente compacto e translúcido, vivendo na imanência placentária, nas arestas da elasticidade do nada, na expansão imunológica, na recolha de um caos tacteante que esquece o conhecimento em forma de catástrofe, em planos de procriação de raias do diáfano onde se desmantela a ferida-língua entre as lousas funerárias e os reflectores das latências__________o poeta desaparece sempre na tentativa de transformar a geometria materna, de buscar a opticidade inelutável, os triângulos-tetaedros por meio de camadas cibridas( a experiência circula na ficção injectada de sangue e o corpo seduz a rejeição da loucura, enlouquecendo no desconhecido dotado de presenças prometidas à elasticidade cerebral) : a língua, o poeta, o leitor e a palavra respiram em risco, em não-pertença porque há a urgência da autonomia da desorientação: os miradouros abrangem a recusa da palavra, extraem composições informes e arrancam os rostos às eclipses que alargam sombras no fulgor do poema para o retirar da língua e o circundar nas probabilidades-criadoras de zonas sulcadas pelos desvios espaciais onde descampa o pensamento sob formas de combinações-moxinifadas-fugidias: estes traços-olhares transpõem as sombras dos parasitas-predadores que habitam na solidão do texto-quase-vivente, sempre em decomposição estocástica________ a fala projecta-se longe de si, para se transgredir indeterminadamente e transpor sonâncias, tumultos através do designer-musical-desfocado: este murmúrio desordena as raias da escrita sem repouso e o texto é em si a mutabilidade, a fluxibilidade, a incurabilidade que se regermina nas forças indistintas do devir da cisão que vive dentro de nós caçando latitudes e longitudes tremendamente impessoais, fosforescentes: é nos intervalos-moventes do texto que o corpo dança com os fenómenos das luminárias no dorso e se abre à tradução do mundo, aos jogos da imanência, aos jogos da mestiçagem, à mola dos contágios: prospecção e irradiações de forças esteticamente captadoras de visões-misturadas que se autonomizam do e no corpo para se extraírem a si próprias e repulularem entre experimentações biológicas-cosmológicas da escritura-sem-origem, convertendo o leitor na aventura violenta da palavra, na transmutação cúbica dos devaneios: são as multiplicidades de inversos experimentadores de batentes comutativos a fluírem na matéria ______a morte destacada faustosamente e os rastros transformam-se em signos infractores-interditos: metamorfose dos rumores petrificados pelos golpes mágicos da espera de quem nunca vem_____golpes que trilham espirais infinitas alicerçadas nas palavras mutiladas porque se urdem intensamente a si próprias: esperar nas encurvas dos nervos onde recomeça a vida como calamidade espontânea aproximando o vácuo da palavra de quem não vem, de quem se deflagra na fronteira estranha, na falta das vizinhanças dos fogos em colapsos penetrantes que nos fazem sustentar o redobramento das disrupções sobre um poema em intermitência diametralmente quase-circular, quase mercurial porque a indução é roubada à obscuridade: vejam, o poema dentro da vidraceira a acontecer na erosão dos interfaces imprevistos herdados das transfronteiras mitopoéticas e dos génios das incertezas: assim a vidraceira viverá inapreensível e será círculo de uma experiência contínua, projectando sempre seu espaço de incompletude: eis, o emaranhamento das passagens contrastadas, infinitamente flutuantes, incomensuravelmente neurotizantes_______a perplexidade das falanges variáveis continuarão a fazer parte das catástrofes sensoriais como um recomeço dos derrames dentro da vastidão que nos colocará sempre nas travessias suspensas sem pontos, sem linhas: o algoritmo do olhar é já o vidro em brasa paradoxalmente esfericizado pelo excesso e pela expansão da memória contrariando os deuses____a vidraceira é a próproa ciranda da perda, esboçando-nos na falha plurímoda onde as rotações do jogo nada dizem, sentimos o povoamento da clandestinidade e a transgeografia de um fogo invisível_____imensamente escultórico e incontrolável.

 

 

 

 

 

 

 

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Luis Serguilha é poeta e crítico. Autor de várias obras de poesia e ensaio. Participou em encontros internacionais de arte e literatura. Alguns dos seus livros: Embarcações (2004); A singradura do capinador (2005); Hangares do vendaval (2007); As processionárias (2008); Roberto Piva e Francisco dos Santos: na sacralidade do deserto, na autofagia idiomática-pictórica; no êxtase místico e na violent…a condição humana (2008); KORSO (2010); KOA’E (2011); Khamsin-Morteratsch( 2011); KALAHARI( 2013) estes seis últimos em edições brasileiras. Possui textos publicados em diversas revistas de literatura e arte. Seus textos foram traduzidos para várias línguas. Criador da estética do LAHARSISMO e responsável por uma colecção de poesia contemporânea brasileira na Editora Cosmorama. Pesquisador da Poesia Brasileira Actual Foi um dos Curadores do Encontro Internacional de Literatura e Arte: Portuguesia. Curador do RAIAS-POÉTICAS: Afluentes IBERO-AFRO-AMERICANOS de ARTE e PENSAMENTO. E-mail: luisfserguilha@gmail.com




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