Vertigem




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O aprofundamento das relações interfere no equilíbrio das hormonas sexuais Devido ao egotismo da soberba idiomática da sobrelotação dos utentes que fervem em banho-marinho em banho-maria numa vandalizada sala de protestos ridiculamente confinados a uma senha de reclamação e rezando por um milagre na convenção anual das superstições.

2019

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Um homem faz lâmpadas de barro para acender velas enquanto uma cobra-rei de quatro metros de comprimento é retirada de um esgoto e um cão farejador de armazenamento de dados busca nos pedestres que olham para a polícia de choque enquanto um migrante se aquece com um cobertor espacial na longínqua noite que se avizinha.

2019

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Ventozelo

Era nas noites de trovoadas, quando o relâmpago
Ao sul se descarregava no esqueleto das árvores
E em transe percutíamos a glande do mistério
Vinham os animais despojar a crença do nosso sacrifício
E logo reflectíamos a posse da atmosfera circundante
De intemporal solenidade, de prosaico pragmatismo
Convertendo as relações em dependências familiares
Na consanguinidade dos gestos e das partilhas
Mordidas na mesma carne que nos sustenta
Cultivando a emancipação dos costumes
Á luz da morte que nos iluminou.

(Zelo)
Mogadouro
2001

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urbana calamum

Vivia do dinheiro que a mãe tirava do cofre em mentiras que eram contadas em sobressalto no cinema quando uma vez o vizinho morreu a ver um filme pornográfico e um recém-nascido foi encontrado no lixo.
E por meio de carros voadores a satisfação aproxima-se da vertente contabilística da soma das horas despendidas no tráfego urbano que premeia a reciclagem do consumo que se encontra disponível na inteligência artificial e nos drones que pulverizam com água benta as multidões em desacordo com os governos sendo a paixão um sucesso desportivo plagiando as personas que se manifestam na ribalta colectiva com o avatar corrigido pela aceitação social a título póstumo em que a sobrevivência se joga no salário mínimo a caminho de uma espiritualidade laica no confronto com a besta urbana em orgasmos de fé pública com o dia pleno de afectos num trânsito enlevado pelo paradoxal existir perplexo.

2019

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Januário Esteves nasceu em Coruche (1960) e foi criado perto da Costa da Caparica, Portugal. Formou-se em instalações electromecânicas, e escreve poesia desde os 16 anos. Publicou em 1987 poemas no Jornal de Letras, e participou de algumas publicações colectivas. Seu face é: www.facebook.com/januarioantonioesteves/?pnref=lhc
E-mail: januario.esteves@netvisao.pt






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